34º Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e do Esporte e Simpósio Pan-Americano de Medicina do Esporte

Dados do Trabalho


Título

Benefícios do Treino de Endurance no Sistema Nervoso Central: o BDNF é a resposta

Introdução e Objetivo

O exercício de resistência/endurance é usualmente realizado em intensidade submáxima, com o objetivo principal de mover progressivamente o limiar anaeróbio, ou seja, o início do metabolismo anaeróbio e produção de lactato, em direção a uma maior intensidade de exercício. Seus benefícios musculoesqueléticos e de melhora na função cardíaca, glicemia e metabolismo de gordura são amplamente conhecidos.
Além desses benefícios, também estão descritas alterações benéficas no Sistema Nervoso Central (SNC) em seres humanos como consequência desse tipo de treinamento físico; dessa forma, o objetivo deste trabalho é descrever essas alterações, seus efeitos e sua localização no SNC de acordo com a literatura.

Casuística e Método

Foi realizada pesquisa nas plataformas PUBMED e Cochrane com as palavras-chave (central nervous system) e (endurance training), incluindo meta-análises, revisões e revisões sistemáticas publicadas entre 2017 e 2022.
Foram encontrados 17 artigos na plataforma PUBMED e 25 na plataforma Cochrane, totalizando 42 artigos.

Resultados

Nos estudos revisados, o treino de resistência aumentou os níveis de Brain derived neurotrophic factor (BDNF), um dos principais fatores tróficos do sistema nervoso dos mamíferos, que na vida adulta possui relação com regulação da sinaptogênese e da plasticidade sináptica, regeneração celular, aprendizagem e memória.
Além do aumento do próprio fator neurotrófico, seus receptores TrKB, que sinalizam sobrevivência neuronal e plasticidade, também aumentam em número nos tecidos neuronais como resultado do treinamento.
Nos motoneurônios espinais, o aumento de BDNF evocado por treinamento provoca diversas mudanças em sua eletrofisiologia que ocorrem antes da modificação das propriedades mecânicas nos músculos, tais como:
- Diminuição do potencial de membrana em repouso do neurônio;
- Diminuição do limiar de ação;
- Aumento da amplitude após a hiperpolarização;
- Alterações na taxa de disparo;
- Mudanças na transmissão sináptica e na plasticidade em segundos ou minutos, além de mudanças nas estruturas e funções sinápticas dentro de dias.
Já na substância nigra, o aumento de BDNF é capaz de aumentar a liberação de Dopamina em pacientes com Parkinson, trazendo vários benefícios:
- Melhora do desempenho em atividades de equilíbrio;
- Redução dos distúrbios da marcha;
- Melhora da velocidade da marcha e comprimento da passada;
- Melhora da caminhada para frente e para trás;
- Melhora da velocidade de caminhada no solo;
- Suprarregulação fator neurotrófico.
Por último, nos núcleos hipotalâmicos, o aumento de BDNF modula os níveis de hormônios responsáveis pela regulação do metabolismo, resultando em diminuição de peso, melhora da glicemia e diminuição dos valores da pressão arterial em pacientes com síndrome metabólica.

Discussão

As revisões de literatura incluídas neste estudo apresentaram diversos benefícios como consequência do treinamento de endurance, especificando seus efeitos e a localização das modificações.
Ainda assim, parece necessário que sejam realizados estudos comparativos entre os diversos tipos de treinamento e avaliação de possíveis benefícios em pacientes saudáveis.

Conclusão

Considerando os benefícios do treino de resistência no SNC, e tendo em vista o aumento da expectativa de vida da população mundial, é de suma importância que sejam pesquisados os benefícios de cada tipo de treinamento a fim de que o profissional possa prescrever o treinamento assim como se faz com um medicamento: com orientação de especificidade e dose, ciente dos benefícios daquilo que está sendo prescrito.

Área

Medicina do Esporte

Autores

Luiza Borges Gentil, Ana Carolina Starke