Dados do Trabalho

Título

RABDOMIÓLISE: CPK NÃO É UM MARCADOR

Introdução e Objetivo

Rabdomiólise é definida como lesão na célula muscular esquelética que afeta a integridade da membrana celular e evolui com a liberação de seus componentes para a corrente sanguínea. Ela ocorre pela entrada excessiva de cálcio na célula, que pode ocorrer por depleção de ATP ou por ruptura de sua membrana.
A rabdomiólise induzida por exercício está associada ao exercício excessivo e ocorre principalmente em indivíduos não treinados. Os fatores de risco são desidratação, anemia falciforme e uso de álcool e drogas.
A apresentação clínica envolve mialgia, fraqueza muscular e urina marrom-avermelhada.
A partir da suspeita clínica, é feita a dosagem de um dos componentes da célula muscular, sendo que a CPK acima de 5 vezes o valor de normalidade é considerada diagnóstico.
A CPK é uma enzima da via da fosfocreatina, cuja função é produzir ATP. Vários fatores determinam seu nível sérico.
Os atletas apresentam maior porcentagem de massa magra e células musculares condicionadas para atender às suas demandas metabólicas. A concentração de CPK nessa população é maior, quando comparada aos não treinados. O aumento do seu nível sérico é uma consequência da atividade física e não, necessariamente, um sinal de lesão muscular.
A mioglobina é responsável pelo estoque e transporte de oxigênio para a mitocôndria nos tecidos musculares e é filtrada nos glomérulos e metabolizada nos túbulos renais.
A lesão renal aguda é a complicação mais grave da rabdomiólise e está relacionada à precipitação da mioglobina nos túbulos renais.
O objetivo do presente estudo é dissociar o diagnóstico de rabdomiólise da dosagem isolada de CPK.

Casuística e Método

Revisão sistemática de artigos referentes a rabdomiólise induzida por exercício.

Resultados

A revisão sistemática resultou em 8 artigos, totalizando 66 casos clínicos com elevação da CPK após a prática de atividade física.
Os 66 pacientes foram divididos em 4 grupos de acordo com seus sintomas: mialgia; alteração na coloração da urina; queda da função renal e assintomáticos.
3 pacientes apresentaram queixa de mialgia. Para 1 deles, foram solicitados exames de urina e mioglobina sérica, que vieram sem alterações. Os 3 casos evoluíram sem complicações.
16 pacientes apresentaram queixa de urina escurecida. Para 2 pacientes, foi solicitado mioglobina sérica, cujo resultado foi alterado. Para 13 pacientes, foram solicitados exame de urina e mioglobina sérica, também alterados. Para 1 paciente não foram solicitados exames.
3 pacientes apresentaram queda da função renal sem alteração da coloração da urina. Os três apresentavam fatores de risco para lesão renal aguda.
Para os 23 pacientes assintomáticos foram solicitados exames de função renal e mioglobina sérica. O único valor alterado foi a mioglobina sérica para os pacientes com queda da filtração glomerular.

Discussão

A concentração sérica de CPK eleva-se após a atividade física e se mantem elevada em indivíduos treinados devido a maior porcentagem de massa muscular e ao melhor condicionamento celular.
Mialgia e CPK elevada são resultados fisiológicos da prática de atividade física e não diagnosticam rabdomiólise quando não estão acompanhados de outros sinais e sintomas.
A presença de mioglobina no sangue e na urina indica lesão na célula muscular, diagnosticando a rabdomiólise. Além de ser diagnóstica, também tem valor prognóstico, por ser um fator de risco para o desenvolvimento de lesão renal aguda.
Os valores séricos de CPK podem estar aumentados em indivíduos treinados, pois o treinamento físico regular estimula a adaptação da célula muscular, sem provocar sintomas ou lesões em órgãos alvo.

Conclusão

Para o diagnóstico de rabdomiólise, é necessário dosar CPK e mioglobina. Os pacientes que se apresentarem com queda do estado geral, alteração da função renal e presença de mioglobinúria devem ser internados para o tratamento adequado.