34º Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e do Esporte e Simpósio Pan-Americano de Medicina do Esporte

Dados do Trabalho


Título

Impacto da sequela de miocardite pós COVID-19 no retorno ao esporte.

Introdução e Objetivo

Com mais de meio bilhão de casos de infecção pelo vírus SARS-COV-2 desde dezembro de 2019, o conhecimento médico sobre a COVID-19 só tem aumentado. No contexto esportivo, as guidelines de retorno ao esporte têm se ajustado de acordo com a emergência deste conhecimento. E, no retorno, as complicações cardiovasculares são as que mais têm preocupado os médicos, principalmente a miocardite.
Desta forma, o objetivo desta revisão é analisar o impacto da sequela de miocardite pós COVID-19 no retorno ao esporte.

Casuística e Método

​​Revisão narrativa através de leitura dos artigos mais relevantes sobre o tema.

Resultados

Após a resolução da infecção, ainda pode-se evidenciar lesões miocárdicas ou outras anormalidades como dores no peito, palpitações, taquicardia, síndrome de taquicardia em postura ortostática, arritmia atrial ou tromboembolismo. Os exames das troponinas podem evidenciar elevação até 2 meses do diagnóstico da infecção.
Na ressonância magnética, alguns pacientes evidenciaram anormalidades ou lesões miocárdicas, além de elevação nos níveis de troponina após 2 meses do diagnóstico de COVID.
O retorno ao exercício é possível para a maioria dos indivíduos infectados em cerca de 7-14 dias, sendo que as taxas associadas à miocardite apresentaram-se muito baixas para jovens atletas. Porém, indivíduos com sintomas acentuados durante a infecção, com comorbidades ou que persistam sintomáticos em resposta aos exercícios, necessitam de acompanhamento profissional.

Discussão

O protocolo de retorno pós infecção pelo SARS-CoV-2 é um tema extenso e divergente, principalmente quando se trata da realização de dosagem de marcadores cardíacos, eletrocardiograma e ecocardiograma. De forma geral, a intensidade e a duração dos sintomas são os principais guias para a volta ao exercício, sendo a investigação cardíaca secundária à apresentação de sintomas significativos. Geralmente, a retomada deve ocorrer após o fim dos sintomas e deve ser feita gradualmente, até atingir a capacidade máxima novamente. Já a Sociedade Canadense recomenda 7 dias de suspensão das atividades físicas após o fim dos sintomas para iniciar a retomada gradual. Nos casos em que após 30 dias da infecção, o atleta ainda apresentar dificuldade de retorno ao ritmo pré-infecção, recomenda-se uma avaliação cardíaca mais extensa, incluindo ECG e ecocardiograma. No entanto, vale citar que é possível ser um quadro de “Long COVID” e não de repercussões cardíacas.
Em casos de atletas portadores de miocardite ativa, são recomendados a não praticar esportes ou exercícios físicos de alta intensidade durante o período de convalescença. O período estabelecido é de 3-6 meses para a liberação de treinamentos, a depender de sintomas, arritmias, disfunção ventricular, marcadores inflamatórios e alterações no ECG. Os critérios que devem obrigatoriamente ser preenchidos são: função sistólica na faixa de normalidade, biomarcadores de lesão miocárdica normais e ausência de arritmias no Holter 24h e no teste ergométrico. Caso algum desses critérios esteja alterado, o retorno esportivo é descartado temporariamente, até reavaliação com todos critérios na normalidade.
Apesar disso, tem-se conseguido sucesso no retorno ao esporte de forma segura e a taxa de casos notificados tem sido, de forma geral, baixa. Contudo, vale frisar que esses dados são variáveis e dependem da qualidade do estudo.

Conclusão

As taxas de acometimento miocárdico por infecção por COVID em atletas são incomuns, no entanto, quando presente, está relacionado a um pior prognóstico. Os sintomas durante a infecção e o retorno às atividades devem ser tratados de forma individual. O retorno às atividades geralmente ocorre entre 7-14 dias, porém ainda é escasso os estudos sobre miocardite após COVID em atletas e o retorno ao esporte. É aconselhável a realização de novos estudos com grupos maiores com o objetivo de guiar a melhor estratificação de risco do atleta, assim como seu retorno aos treinos.

Área

Medicina do Esporte

Instituições

UFMG - Minas Gerais - Brasil

Autores

Gabriel Moraes de Oliveira, Rodrigo Silva Viza, João Pedro Fardin Pavan, Isadora Yan Oliveira Veloso, Jackson Roberto de Moura Júnior, Marconi Gomes da Silva