34º Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e do Esporte e Simpósio Pan-Americano de Medicina do Esporte

Dados do Trabalho


Título

Insuficiência Cardíaca em paciente com abuso de esteróides anabolizantes

Introdução e Objetivo

A insuficiência cardíaca (IC) é uma doença crônica com alta prevalência, causando grande morbimortalidade A disfunção sistólica e/ou diastólica do ventrículo esquerdo que leva a uma hipertrofia do músculo cardíaco, apresenta uma variabilidade etiológica, dentre elas os esteroides anabolizantes (EA). Os efeitos cardiovasculares que induzem cardiomiopatia são devidos à hipertrofia ventricular esquerda, remodelação elétrica e estrutural do coração e disfunções contráteis, que podem levar a arritmias, insuficiência cardíaca, infarto agudo do miocárdio (IAM).

Descrever um relato de caso de insuficiência cardíaca decorrente do uso de esteróide anabolizante em atleta de fisiculturismo.

Casuística e Método

Estudo descritivo de um caso de insuficiência cardíaca decorrente de miocardiopatia dilatada em atleta de fisiculturismo usuário de esteróides anabolizantes na cidade de Caxias do Sul. Um paciente do sexo masculino, de 41 anos, usuário crônico de EA com fins de melhora de rendimento esportivo, em uso de tri-iodotironina (T3) e tiroxina (T4), efedrina, clembuterol, cafeína, T3 e T4, testosterona, nandrolona e trembolona, foi avaliado em programa de reabilitação cardiovascular (PRCV), para onde foi encaminhado após internação por insuficiência cardíaca devido à miocardiopatia dilatada. Após adesão ao PRCV de 4 meses o paciente classificava-se como NYHA I e apresentava melhora completa da polineuropatia, sinais vitais estáveis e melhora laboratorial com uso das medicações prescritas, porém abandonou o programa.

Resultados

O paciente foi encaminhado para reabilitação cardíaca após internação prolongada por abertura de quadro de insuficiência cardíaca. Observou-se os seguintes resultados de exame: ecocardiograma Transtorácico (ETT) evidenciou fração de ejeção do
ventrículo esquerdo (FEVE) = 20% pelo método Simpson e hipertrofia ventricular esquerda com hipocinesia difusa. A ressonância magnética cardíaca revelou FEVE = 18%, FEVD = 23%, hipertrofia miocárdica de padrão excêntrico com dilatação importante biventricular e biatrial, hipocinesia difusa significativa e ausência de edema pericárdico e de realce tardio. O teste cardiopulmonar de exercício (TCPE) em cicloergômetro, evidenciou VO2 pico de 25 ml/kg.min (75% do predito) e teve uma duração de 6 minutos e 11 segundos, não completando o protocolo proposto. Um mês após abandono do PRCV foi realizado novo teste ergométrico que revelou aptidão cardiorrespiratória boa, e novo ecodopplercardiograma apresentava boa recuperação da insuficiência cardíaca com fração de ejeção de 57%.

Discussão

O uso de drogas hormonais, principalmente EA é uma prática comum entre atletas de fisiculturismo e até por indivíduos não-atletas, para fins estéticos ou melhora do rendimento no esporte, aumentando os riscos cardiovasculares, como o descrito neste estudo.
A duração média de um ciclo é de 6 a 12 semanas e pode ser realizado em método de “pirâmide”, quando o indivíduo inicia com doses mais baixas das substâncias, que podem estar combinadas ou não, progressivamente aumentando as doses e regredindo posteriormente. Vale ressaltar, também, a forma de obtenção de tais medicamentos, que são restritos ao uso médico, se dão, principalmente, por meio da internet, seja alegando uso veterinário ou obtendo por meio de laboratórios não regulamentados, o que leva a outro problema: a qualidade. O uso de EA é maior em homens atletas recreacionais em comparação à atletas profissionais, e é comum o uso por jovens com objetivos estéticos. EA possuem alta taxa de dependência (32,5%), podendo o abandono do paciente relatado em nosso estudo estar relacionado com esta alta taxa.

Conclusão

O efeito adverso no sistema cardiovascular pelo EA é uma condição que confere grande risco ao seu uso e o consumo indiscriminado destas substâncias é um problema de saúde pública, podendo ter desfechos catastróficos. O uso exclusivamente para fins estéticos ou de melhora de rendimento deve ser desencorajado por profissionais de saúde.

Área

Medicina do Esporte

Autores

Gabriel GABRIEL Amorim, Pedro Carneiro, Cláudio Kitamura Jr, Fábio Camazzola