Dados do Trabalho
Título
Associação entre o ambiente urbano construído à atividade física de deslocamento em idosos brasileiros
Introdução e Objetivo
O número de idosos no Brasil tem crescido, tornando-se necessário que se pense em medidas para envelhecer mantendo-se a qualidade de vida. Dentre algumas dessas, pode-se citar a Década do Envelhecimento Saudável das Nações Unidas (2021 – 2030) a qual engloba entre seus pilares tanto a construção de ambientes amigáveis quanto a promoção de hábitos saudáveis. A partir disso, o envelhecimento ativo é uma das melhores formas para se preservar as funcionalidades e capacidades. Dentro desse conceito tem-se a atividade física, a qual é um fator fundamental nessa dinâmica sendo influenciada por inúmeros fatores, dentre eles o ambiente urbano construído. Esse tem impacto no nível de atividade física que os idosos vão desenvolver, principalmente no domínio de deslocamento, pois ambientes externos com boas condições e variedade de acesso a destinos são fundamentais para realização dessa prática. Em vista disso, este estudo teve por finalidade analisar a associação entre as características do ambiente urbano construído com a prática de atividade física no deslocamento entre idosos (60 anos ou +) residentes das capitais brasileiras.
Casuística e Método
Tratou-se de um estudo transversal de base populacional com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013 e do Observatório das Metrópoles. O desfecho principal foi o nível de atividade física no deslocamento, sendo considerado ativos (≥ 150 minutos/semana) e insuficientemente ativos (< 150 minutos/semana). Quanto às variáveis exploratórias elas se constituíram pelo ambiente urbano construído analisadas por meio do Índice de Bem-Estar Urbano (IBEU) e suas cinco dimensões: Mobilidade Urbana, Condições Ambientais Urbanas, Condições Habitacionais Urbanas, Atendimento de Serviços Coletivos Urbanos e Infraestrutura Urbana. Os resultados foram ajustados para sexo, idade, escolaridade, situação conjugal e percepção de saúde. A análise dos dados foi realizada por regressão logística multinível levando-se em conta um Intervalo de Confiança (IC) de 95%.
Resultados
A prevalência geral atividade física no deslocamento entre os idosos das capitais foi de 26,35% (IC95%: 24,32-28.52). Verificou-se que idosos que residiam nas capitais brasileiras com tercil mais alto do IBEU (Odds Ratio (OR):1,69, IC95%:1,16-2,47), bem como naquelas com tercis mais alto de suas dimensões específicas, ou seja, com melhores condições habitacionais (tercil médio: OR:1,53, IC95%:1,53-2,27; tercil alto: OR:1,49, IC95%:1,01-2,21), com melhor atendimento de serviços coletivos (OR:1,78, IC95%:1,23-2,55) e com uma melhor infraestrutura urbana (OR:1,68, IC95%:1,14-2,46) foram mais propensos a praticar atividade física no deslocamento.
Discussão
Outros estudos transversais e revisões sistemáticas também encontraram achados semelhantes aos desta pesquisa. Os componentes da exposição utilizados para construção do IBEU foram positivamente associados à caminhada no deslocamento e a melhores condições gerais do ambiente urbano construído. Documentos da OMS e outras pesquisas já destacaram que melhor infraestrutura urbana, acesso a serviços coletivos, condições habitacionais estimulam um envelhecimento ativo, pois fornece subsídio e estímulo para prática de atividade física e maior autonomia, além de que se relacionam também a uma percepção de saúde positiva, a qual está intimamente ligada ao desfecho.
Conclusão
Dessa forma, os achados deste estudo suportam a hipótese de que características do ambiente urbano construído estão associadas com a atividade física no deslocamento em idosos das capitais brasileiras. Portanto, torna-se importante integrar as políticas públicas de saúde ao planejamento urbano para a promoção de hábitos saudáveis e de um envelhecimento ativo e que visem preservar a capacidade funcional dessa população.
Área
Medicina do Esporte
Autores
Maria Cecília Antunes, Maruí Weber Corseuil Giehl