34º Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e do Esporte e Simpósio Pan-Americano de Medicina do Esporte

Dados do Trabalho


Título

Efeito do implante subdérmico de etonorgestrel de 68mg (Implanom NXT®) na composição corporal e dismenorreia primária em jovem atleta de elite: um relato de caso

Introdução e Objetivo

O uso de contraceptivos reversíveis de longa duração (Long Acting Reversible Contraception - LARCs) deve ser considerado como primeira escolha para mulheres jovens e sem desejo reprodutivo. Há poucos relatos na literatura do efeito dos LARCs na performance esportiva. O implante subdérmico de etonorgestrel é um contraceptivo com duração de três anos que libera cerca de 30 a 45μg de progesterona por dia. O etonogestrel tem efeito anovulatório e pouca afinidade à globulina ligadora de hormônios sexuais, podendo ser benéfico para composição corporal. Ademais, pelo seu efeito anovulatório, a dismenorreia e o sangramento menstrual tendem a melhorar durante o uso. O objetivo deste estudo foi relatar o efeito do implante subdérmico de etonogestrel na composição corporal e controle da dismenorreia em jovem atleta de elite.

Casuística e Método

Nadadora de 16 anos, nuligesta, treinando há 10 anos, participando de competições de nível nacional há três anos. O volume de treino era de cerca de 180 minutos de natação, seis vezes na semana, associado ao fortalecimento muscular três vezes na semana. A atleta procurou o serviço especializado com desejo de iniciar contracepção antes da atividade sexual, em especial com o implante subdérmico de etonorgestrel. Em consulta, a atleta relatava dismenorreia, desde os 12 anos (nota 10 na escala visual analógica de dor) e sangramento menstrual aumentado. Foi realizada análise da composição corporal pelo método antropométrico, sendo feitas as medidas (mm) de sete dobras cutâneas (abdominal, peitoral, média axilar, suprailíaca, supscapular, tríceps e coxa), estatura (cm) e Massa Corporal Total (MCT, kg). A partir destes dados foram calculados o percentual de Gordura (%G), estimada pelas equações de Jackson e Pollock; Índice de Massa Corporal (IMC), calculado pelo quociente da MCT (kg) pela estatura elevada ao quadrado (m2); e Massa Livre de Gordura (MLG, kg). A inserção do implante foi realizada sob anestesia local com lidocaína 1% sem vasoconstritor, no terço médio-medial do braço não dominante, a 8cm do epicôndilo medial, com extensão de 4cm pelo trajeto do insertor e 3cm abaixo do sulco entre bíceps e tríceps. Foi orientado repouso no dia da inserção e treino no dia seguinte. Seis meses após o procedimento, a atleta retornou para reavaliação.

Resultados

A paciente apresentou equimose local na primeira semana após a inserção do dispositivo, com resolução espontânea em sete dias. A adaptação ao método foi boa com melhora completa da dismenorreia (nota 0 na escala visual analógica de dor) e amenorreia. Houve redução do valor de IMC de 20,6kg/m2 para 19,22kg/m2. O percentual de gordura reduziu de 18,7% para 18,64%. A massa livre de gordura passou de 51,3kg para 49,14kg. Na percepção subjetiva de performance, a paciente relatou melhora global, especialmente em velocidade, redução de fadiga e aumento de resistência muscular.

Discussão

Segundo a Organização Mundial da Saúde, os LARCs são os mais indicados para as pacientes jovens, motivo pelo qual optamos pelo implante de etonorgestrel neste caso. A melhora da dor menstrual ocorre em cerca de 77% das usuárias e também foi visto nesse relato de caso com seis meses de uso. Embora cerca de 20% das usuárias do implante apresentem sangramento menstrual desfavorável, uma boa parcela pode ficar em amenorreia. A literatura aponta que as usuárias de etonogestrel que praticam atividade física pelo menos três vezes na semana têm melhor padrão de sangramento do que as sedentárias. O ganho de peso tem sido relatado por cerca de 12% das usuárias do implante, não ocorrendo neste relato de caso. A melhora da composição corporal, associado à resolução da dismenorreia e amenorreia podem ter explicado a satisfação elevada da nadadora no uso do método contraceptivo.

Conclusão

O efeito do implante subdérmico de etonogestrel em jovem atleta de elite foi positivo na melhora da composição corporal, controle da dismenorreia e percepção subjetiva de performance.

Área

Medicina do Esporte

Instituições

Universidade Federal de São Paulo - São Paulo - Brasil

Autores

Pedro Loureiro Porto, Thais Neri, Ana Beatriz Barella, Daniela Nacaratto, Fernanda Carvalho, Maíta Poli de Araujo