Dados do Trabalho
Título
Prevalência de incontinência urinária em mulheres praticantes de CrossFit
Introdução e Objetivo
O Crossfit é um esporte que tem ganhado popularidade nos últimos anos. Em 2015, estimou-se a presença de 40000 praticantes no Brasil, sendo cerca de 42,9% do sexo feminino. O esporte envolve movimentos de alto impacto e alta intensidade e sua biomecânica pode favorecer a perda urinária, queixa já recorrente em esportistas de outras modalidades. O objetivo deste trabalho é estimar a prevalência de incontinência urinária (IU) nas mulheres praticantes de Crossfit e fatores associados.
Casuística e Método
Realizado estudo observacional por meio da aplicação de questionário eletrônico em praticantes de CrossFit do sexo feminino, treinando há pelo menos 6 meses, totalizando 120 mulheres entre 16 e 59 anos. Todas as participantes concordaram com o Termo de Consentimento Livre Esclarecido e o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição. O questionário incluiu idade, dados antropométricos, presença de incontinência urinária e exercício associado, paridade e via de parto.
Resultados
Aproximadamente 32,5% (N=39) das mulheres avaliadas (N=120) referiram apresentar sintomas de incontinência urinária durante o treinamento de CrossFit. O movimento mais associado ao sintoma foi o salto de corda simples ou duplo (82%), seguido por exercícios de levantamento de peso com carga excessiva (23%) e salto em caixa (17,9%). As participantes podiam citar mais de um exercício nesse item. A mediana de idade entre as mulheres que apresentaram IU foi de 35 ± 8,8 anos e IMC de 24 ± 3,1 Kg/m², números semelhantes aos observados no grupo sem incontinência: 34 ± 7,5 anos e 24 ± 3,4 Kg/m², respectivamente. Das mulheres com incontinência, 58,9% (N=23) eram nulíparas e 20,5% (N=8) foram submetidas a parto vaginal. Além disso, das 3 participantes que referiram parto vaginal com fórceps, nenhuma apresentou queixa de perda de urina durante os treinos.
Discussão
Os achados referentes à incontinência urinária assemelham-se aos obtidos em estudos prévios, com 32,5% de prevalência nas praticantes de CrossFit, número superior ao encontrado na população geral nessa faixa etária ou em outras modalidades como musculação e esportes coletivos. O salto de corda foi o movimento mais associado à perda de urina, o que pode ser explicado pelo aumento da pressão intra-abdominal durante a execução do exercício. Fatores de risco para a IU já estabelecidos na literatura como a idade avançada, a multiparidade e o IMC elevado não foram estatisticamente relevantes nesta amostra, o que corrobora a hipótese de que o exercício de alto impacto e alta intensidade seria fator independente para a ocorrência desse sintoma. Não foi avaliado, porém, se a queixa de IU era prévia à realização de CrossFit ou se ocorria em outras situações.
Conclusão
A prevalência de incontinência urinária em mulheres praticantes de CrossFit foi de 32,5% neste estudo e a ausência de fatores de risco em parte dessas esportistas sugere uma modalidade de IU associada à prática esportiva. Entretanto, mais estudos são necessários para comprovar a causalidade desses achados. De forma independente, a orientação e a abordagem dos sintomas da IU devem ser realizadas visando melhorar a experiência das mulheres no esporte.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Santa Casa de São Paulo - São Paulo - Brasil
Autores
Laura Amaral Coelho de Azevedo, Nicole Nardy Paula Razuck, Jan Willem Cerf Sprey, Pedro Loureiro Porto, Melanie Mayumi Horita, João Roberto Polydoro Rosa