Dados do Trabalho
Título
Avaliação Funcional do Ombro em Atletas Faixas-Pretas de Jiu-Jitsu
Introdução e Objetivo
Introdução: Jiu-jitsu Brasileiro é um esporte de combate, cujo objetivo é vencer o oponente, forçando a desistência ou levando-o à inconsciência, através de projeções, estrangulamentos e imobilizações, não incluindo movimentos como chutes e pontapés. A hierarquia é baseada no sistema de faixas concedidas conforme a experiência, tempo de prática e habilidades do atleta, sendo a faixa preta o nível mais avançado. Devido a tais características de combate, observa-se que os praticantes estão sujeitos a lesões articulares. Tais lesões tornam-se mais comuns à medida que os praticantes vão evoluindo, e sua prevalência é máxima na faixa preta. Uma das articulações mais acometidas é o ombro, na qual existe um risco aumentado de instabilidade e cronificação da dor.
Objetivo: Avaliar o perfil epidemiológico de atletas faixas-pretas de Jiu-Jitsu e analisar a prevalência de dor e a função do ombro nessa população específica.
Casuística e Método
Estudo transversal realizado entre 2014-2016, incluídos atletas faixa-preta de Jiu-Jitsu, com ao menos 10 anos de prática em diversos centros de treinamento na cidade de São Paulo. Para a avaliação funcional do ombro foi utilizado o Formulário de Avaliação do Ombro do Comitê de Ombro e Cotovelo da Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos (ASES).
Resultados
Foram avaliados 53 atletas praticantes de Jiu-Jitsu, suas variáveis demográficas, tempo de treino, comorbidades, lesões prévias, uso de medicamentos e hábitos. Todos os atletas eram do sexo masculino. Em relação aos hábitos, 60.4% dos atletas avaliados eram etilistas e 32% utilizavam suplementos. A maior parte dos lutadores de Jiu-Jistu praticavam concomitantemente outro esporte, principalmente musculação (49.1%), outra arte marcial (17%) e surf (13.2%). A lesão articular mais prevalente foi no joelho (66%), seguida do ombro (52.8%) e mão e punho (39%). Os mecanismos de lesão mais comuns foram a tração sobre a articulação, trauma direto com o ombro abduzido ou aduzido associado à rotação externa e queda sobre o ombro realizando uma hiperextensão. No ombro, o déficit de movimento mais comum foi a rotação lateral (32%), seguida da elevação (7,6%). 52.8% dos atletas tiverem testes positivos para lesão do manguito rotador, sendo Gerber (28.3%) o mais comum Yokum (28.3%) foi o teste para síndrome do impacto mais constatado. Testes para instabilidade glenoumeral foram positivos em 24.53% dos pacientes.
Discussão
Destaca-se no estudo a população específica de faixas-pretas, e portanto atletas que possuem alto desempenho e longa experiência no esporte. Nossa amostra foi maior quando comparada a outros estudos realizados no Brasil. Grande parte dos atletas praticavam outros esportes e embora conciliar a prática de diferentes esportes seja comum, não identificamos na literatura nacional e internacional que relacionassem tal fato com aumento ou redução do risco de lesões. Um aspecto relevante nesse estudo, além da representatividade da amostra, é a avaliação da dor e função do ombro de atletas praticantes de Jiu-Jitsu, na qual existe uma lacuna na literatura. Uma das limitações relaciona-se ao viés de memória associado ao autorrelato da limitação funcional na avaliação do ombro pelo escore ASES, além de não possuir atletas do sexo feminino.
Conclusão
Os atletas faixas-pretas apresentam maior histórico de lesões, sendo ombro o segundo local mais acometido. Os testes para síndrome do impacto e manguito rotador apresentaram maior prevalência de positividade. O déficit de arco de movimento foi comum nessa população, com restrição para rotação lateral e flexão de ombro. Mais da metade dos atletas apresentou algum grau de limitação funcional no escore ASES, sendo pior em atletas mais velhos e naqueles com positividade para testes de manguito e síndrome do impacto.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
UNIFESP - São Paulo - Brasil
Autores
Guilherme Fernandes, Ewerton Lima, Paulo Belangero, Carlos Andreoli, Alberto Pôchini, Benno Ejnisman