34º Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e do Esporte e Simpósio Pan-Americano de Medicina do Esporte

Dados do Trabalho


Título

Ciguatera em um mergulhador amador: um relato de caso

Introdução e Objetivo

A ciguatera é uma doença endêmica nos trópicos, causada pela ingestão de peixes contaminados pela cinguatoxina, uma toxina que surge do dinoflagelado Gambierdiscus tóxicos, um organismo unicelular que cresce em recifes de coral infectam peixes de recife, podendo ocorrer em áreas de clima temperado devido ao consumo de peixe importado. A cinguatoxina não altera o sabor, cheiro ou aspecto da carne do peixe e cozinhar, marinar, congelar ou refogar não destroem as toxinas. Anualmente, ocorrem 20.000-50.000 casos dessa intoxicação, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 0,1% e decorrem de colapso cardiovascular e insuficiência respiratória. O quadro clínico é variado e inicia-se com sintomas gastrointestinais (vômitos, cólicas e diarreia) que resolvem-se em 24-48h, neurológicos (parestesias, parageusia, disestesias) que podem durar até várias semanas e cardiovasculares (bradicardia, bloqueios e hipotensão), mais raros e que denotam maior gravidade. Não existem testes laboratoriais capazes de determinar o diagnóstico, que deve ser realizado a partir da história de ingestão de um peixe associado à ciguatera, quadro clínico compatível e exclusão de outras causas potenciais (ex: tetrodotoxina, doença descompressiva, síndrome de Guillain-Barre e envenenamento por organofosforado)

Casuística e Método

Descrevemos o caso do paciente ATC, 50 anos, do sexo masculino, em viagem para Bahamas, quando após uma série de 5 mergulhos, com profundidade máxima de 12 metros, começou a queixar-se hipestesia nas pontas dos dedos das mãos bilateralmente, evoluindo posteriormente com prurido generalizado e diarreia (início dos sintomas em 22/11). Pela hipótese de doença descompressiva, foi orientado pelo guia local tratamento em câmera hiperbárica, sem melhoras. No dia 30/11, em avaliação clínica, o paciente apresentava disestesia térmica, poliartralgia e odinorgasmia, além de insônia. Ao exame físico, possuía força global preservada, sensibilidade profunda preservada, porém persistia com a inversão térmica na sensibilidade superficial em alguns pontos. Realizadas RMN de crânio e eletroneuromiografia sem alterações e recusada a coleta do liquor pelo paciente. Foi então iniciado fluoxetina 20mg e pregabalina 75mg, de 12/12h, com bom controle dos sintomas. Tentado desmame com 60 dias após, sem sucesso, então o desmame foi iniciado com 100 dias do início dos sintomas com boa tolerância.

Resultados

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Discussão

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Conclusão

Trata-se de uma descrição de caso de uma doença endêmica nos trópicos, ainda rara e sub-diagnosticada em nosso meio, apesar de ser a intoxicação por peixes mais frequente nos EUA causada pela ingestão de peixes contaminados pela cinguatoxina, uma toxina que surge do dinoflagelado Gambierdiscus tóxicos. As manifestações clínicas são diversas devido ao seu comprometimento sistêmico sendo os principais: gastrointestinais, neurológicos e cardiovasculares. Seu diagnóstico diferencial é amplo e sua contaminação deve ser sempre suspeita para viajantes com consumo relatado de peixes relatados neste artigo. O tratamento é de suporte, sendo direcionado para a suporte hemodinâmico na fase aguda e cronicamente para sintomas predominantemente neurológicos, e seu diagnóstico é realizado mediante critérios clínicos e anamnese detalhada.

Área

Medicina do Esporte

Instituições

UNIFESP - São Paulo - Brasil

Autores

Guilherme Fernandes, Gabriel Ganme, João Roberto Domingues