Dados do Trabalho
Título
A crioterapia não promove efeitos deletérios sobre o equilíbrio dinâmico: um ensaio clínico cruzado aleatorizado.
Introdução e Objetivo
O joelho representa a segunda maior região acometida por lesões esportivas e o tratamento baseado em exercícios físicos é apontado pela literatura como principal estratégia de reabilitação juntamente com outras modalidades terapêuticas coadjuvantes podem ser realizadas, como no caso da crioterapia. Apesar de muito utilizada, protocolos recentes, como o Peace and Love, não recomendam a sua utilização com base na crença de que a crioterapia poderia diminuir o processo inflamatório e afetar o reparo dos tecidos após lesões agudas, sugerindo efeitos deletérios dessa modalidade terapêutica. Além disso, existem estudos que encontraram um aumento na rigidez e diminuição no senso de posição do joelho que, em tese, poderiam influenciar a funcionalidade. Porém, não existem evidências de que a crioterapia tenha a capacidade de atenuar marcadores inflamatórios, enquanto a redução de edema articular e analgesia podem auxiliar na realização de exercícios terapêuticos durante a reabilitação. Desta forma, o presente estudo objetivou avaliar os efeitos da crioterapia sobre a função imediatamente e após 20 minutos de crioterapia para investigar sua influência dentro de uma sessão de reabilitação.
Casuística e Método
Trata-se de um ensaio clínico cruzado aleatorizado aprovado sob CAAE:48195521.6.0000.5402, composto por 80 participantes entre 18 e 28 anos de idade e sem queixas musculoesqueléticas que foram randomizados para receber a intervenção e o controle em ordens distintas, evitando possíveis vieses de aprendizagem no teste funcional. O grupo crioterapia realizou um protocolo de 20 minutos com duas bolsas térmicas com temperatura entre 0 e 2ºC posicionadas ao redor da articulação do joelho, enquanto o grupo controle utilizou bolsas térmicas em temperatura ambiente. Foram submetidos a: i) avaliação, ii) 20 minutos de intervenção (crioterapia ou controle), iii) reavaliação, iv) 20 minutos de repouso e v) reavaliação. A função foi avaliada pelo Star Excursion Balance Test Modificado (SEBTm), que consiste em alcançar com a perna contralateral o maior alcance possível, normalizado pelo tamanho do membro, em três tentativas válidas, sem compensações, em três direções: anterior (ANT), póstero-lateral (PL) e póstero-medial (PM), sendo comprovadamente eficaz e apresentando boa confiabilidade. Foi utilizado o Modelo Linear Misto Generalizado com matriz de covariância AR (1) e distribuição normal, no software SPSS com o nível de significância de 0,05.
Resultados
Foram incluídos 80 voluntários com parâmetros antropométricos descritos como média e desvio padrão [21.7 ± 2.48 anos; 169.7 ± 8.12 cm; 69.6 ± 12.77 kg; 72 destros; 42 mulheres]. O protocolo de crioterapia não promoveu efeito deletério significativo em nenhuma das pontuações do teste funcional tanto imediatamente e 20 minutos após a aplicação da crioterapia com diferenças médias de, no máximo, 1% em relação a avaliação basal (Composto P=0,24, ANT P=0,62, PL P=0,09, PM P=0,84).
Discussão
Apesar da crença de que a crioterapia possa influenciar negativamente a reabilitação, o presente estudo não encontrou diferenças significativas na funcionalidade. Exercícios terapêuticos exigem habilidades globais como força muscular, equilíbrio, coordenação e propriocepção que são aspectos importantes para um bom desempenho no SEBT. Estas habilidades podem não ter sido afetadas pela aplicação de crioterapia na articulação do joelho, pois trata-se de uma técnica localizada, podendo não ter atingido estruturas mais profundas e/ou influenciado propriedades musculares, possibilitando sua utilização durante a reabilitação e sessões que precedam o movimento.
Conclusão
A crioterapia não promove efeitos deletérios sobre a função articular e pode ser utilizada dentro de protocolos de reabilitação.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FCT/UNESP - São Paulo - Brasil
Autores
Michael Lopes Siqueira, Flávia Alves Carvalho, Pedro Henrique Emiliano, Carlos Alberto Toledo Teixeira Filho, Eduardo Pizzo Junior, Carlos Marcelo Pastre