Dados do Trabalho
Título
Alta prevalência de violência, assédio e abuso em esportistas brasileiras: um estudo observacional.
Introdução e Objetivo
A violência interpessoal no esporte manifesta-se de diferentes formas: violência psicológica, física e de gênero, abuso sexual, assédio moral e sexual, e negligência ou omissão. Sua prevalência é subestimada e perpetuada por um contexto cultural desfavorável, seja pelo medo de retaliações ou de prejuízo na reputação esportiva. Os impactos são vastos, com consequências negativas tanto para o atleta quanto para as organizações esportivas, e é de suma importância a promoção de um ambiente seguro para o esporte.
Objetivo: Analisar a prevalência de diferentes formas de violência em mulheres esportistas brasileiras.
Casuística e Método
Foi realizado um estudo observacional, de corte transversal, com informações obtidas nos prontuários eletrônicos de mulheres atendidas no Setor de Ginecologia do Esporte da Escola Paulista de Medicina, São Paulo - Brasil, no período de agosto de 2021 a agosto de 2022. As variáveis extraídas do prontuário foram: dados demográficos (idade e modalidade esportiva) e relato de violência, assédio, abuso ou negligência. Para o propósito do estudo as modalidades esportivas foram divididas em individuais e coletivas, e as faixas etárias em três grupos: jovens (até 19 anos), adultas (entre 20 e 59 anos) e idosas (a partir de 60 anos). Os dados foram digitados e armazenados em uma planilha do Microsoft Excel 2010® e analisados com pacote estatístico Jamovi®. Os resultados foram apresentados em frequências absolutas e relativas, média e desvio padrão. O teste do qui-quadrado, com nível de significância 5% foi utilizado para comparar os tipos de violência com os dados demográficos.
Resultados
84 mulheres responderam ao questionário e foram incluídas neste estudo. A média de idade foi de 38 ±14 anos (15-69) e a maioria (87%) realizava esportes individuais. Uma proporção elevada de esportistas (60%) relatou já ter sofrido pelo menos um tipo de violência no esporte. Em números absolutos, 29 mulheres relataram violência psicológica, 24 assédio moral, 19 negligência ou omissão, 16 violência de gênero, 10 assédio sexual e quatro violência física. Três esportistas relataram ter sofrido abuso sexual, e nas três ocasiões a violência ocorreu pelo treinador. Dentro do grupo que sofreu alguma forma de violência, não houve diferença estatisticamente significativa em relação à modalidade esportiva (p=0,3) e à faixa etária (p=0,6).
Discussão
A elevada prevalência de violência interpessoal no esporte apontada neste estudo é concordante com a literatura. Estudos com homens e mulheres atletas estimam 44% de violência de qualquer tipo, sendo a violência psicológica isolada a mais frequente (quase 87%). De fato, a análise individual dos tipos de violência aponta a psicológica como a mais prevalente, sendo considerada por alguns autores como a porta de entrada para as outras formas de abuso. Assédio e abuso sexual não parecem ser mais prevalentes no esporte do que na população geral. Embora a faixa etária e a modalidade esportiva (individual ou coletiva) não tenham se mostrado fatores de proteção em relação a violência no esporte, acredita-se que o esporte individual deixe os atletas mais vulneráveis.
Conclusão
A prevalência de diferentes formas de violência, assédio e abuso em mulheres esportistas brasileiras é alta, independente da modalidade esportiva e da faixa etária. A identificação desses casos é o primeiro passo para a implementação de políticas de prevenção e suporte aos atletas, e para a promoção de um ambiente seguro para o esporte.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Setor de Ginecologia do Esporte da Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP) - São Paulo - Brasil
Autores
Mariana Parreiras Reis de Castro, Natalia Tavares Gomes, Sílvia Gomyde Casseb, Tathiana Rebizzi Parmigiano, Márcia Martins, Maíta Poli de Araujo