Dados do Trabalho

Título

Duplo orifício mitral isolado em atleta de alta performance - relato de caso

Introdução e Objetivo

O duplo orifício mitral é uma rara malformação congênita da valva mitral, formada por um ânulo fibroso único com dois orifícios. Geralmente está associado a outras malformações congênitas cardíacas. Sua forma isolada é rara, sendo comum achados de estenose ou regurgitação valvar mitral, quando levam a uma história natural de congestão pulmonar e insuficiência cardíaca. Até então, não existem relatos da ocorrência dessa malformação em atletas de alta performance.
Esse trabalho relata o caso de uma mulher atleta profissional de alta performance de futebol com achado de duplo orifício mitral isolado.

Casuística e Método

Relato de um caso, retrospectivo, e revisão bibliográfica.

Resultados

Uma atleta de alta performance, de 28 anos, de um clube de futebol profissional se apresentou durante o início de temporada para avaliação de pré-participação realizada anualmente pelo clube. No último ano, ela havia realizado suas atividades em grupo sem intercorrências. A avaliação clínica não constatou queixas, risco cardiovascular e nem achados fora da normalidade no exame físico. Foi realizado um teste ergométrico com resultado dentro dos limites da normalidade, esperados para o perfil da paciente.
Na ecografia foi constatado um duplo orifício mitral isolado, sem restrição significativa da abertura global. O gradiente diastólico máximo foi de 4,5mmHg e médio 1,7mmHg sendo o orifício efetivo de fluxo de 3,0cm², havendo refluxo mínimo e ausência de estenose.
A aorta teve apresentação anatômica, sem coarctação, com dimensões na raíz de 29mm.
Os atrio e ventrículo esquerdos também tiveram dimensões dentro da normalidade. No ventrículo o diâmetro da cavidade, a espessura miocárdica, a contratilidade e a função sistólica global estavam preservados. Também não foram visualizados shunts inter atriais ou ventriculares no ecodoopler colorido.

Discussão

O duplo orifício mitral é uma rara malformação congênita da valva mitral. A incidência estimada é de 0,06% da população, sendo que representa cerca de 1% de todas as cardiopatias congênitas. A patogênese é incerta, estando provavelmente associada a um defeito no colchão endocárdico, havendo também descrições na literatura de casos adquiridos.
Geralmente está associado a outras malformações congênitas cardíacas, tais como tetralogia de Fallot, coarctação aórtica, persistência do ducto arterioso e defeitos nos septos atrioventriculares. Sua forma isolada é rara, sendo comum achados de estenose ou regurgitação valvar mitral. A ecocardiografia representa o melhor método para o diagnostico, fornecendo dados anatômicos e funcionais. Nesse relato, a paciente , apresentou o duplo orifício mitral na ausência de estenose e regurgitação significativa, assintomática e sem história de cardiopatia.
O prognóstico dos pacientes com duplo orifício mitral é incerto, mas a literatura demonstra que menos de metade dos adolescentes possuem os dois orifícios funcionais, e a preservação da funcionalidade de ambos os orifícios em adultos é ainda mais raro. O tratamento depende da sintomatologia e da gravidade do defeito, sendo possível acompanhamento, manejo clínico de sintomas ou procedimentos cirúrgicos. O achado da válvula isolada em ecografia já foi descrito na literatura em paciente cardiopata. O que torna o presente relato único é o encontro da malformação, ao acaso e tardia na carreira de uma paciente atleta profissional de futebol, sem repercussões clínicas ou em sua performance.

Conclusão

O duplo orifício mitral é uma malformação rara, sendo pela primeira vez relatada sua ocorrência, constatada por imagens de um exame de ecocardiograma de rotina, em uma atleta profissional. Mesmo sendo de alta performance, a malformação não se apresentou, até o presente momento, com repercussões clínicas ou interferiu no seu desempenho na rotina intensa do esporte.