34º Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e do Esporte e Simpósio Pan-Americano de Medicina do Esporte

Dados do Trabalho


Título

DOR TORÁCICA EM ATLETA DE ENDURANCE: É SÓ DOENÇA ISQUÊMICA?

Introdução e Objetivo

O exercício físico de alta intensidade, principalmente o de endurance, está associado a vários fatores de risco potencialmente trombogênicos. Além dos fatores de risco correlacionados com o esporte, ainda temos viagens aéreas, traumas, imobilização e uso de hormonoterapia. Neste relato, demonstramos um caso clínico de um Tromboembolismo Pulmonar não provocado em atleta de endurance após prova de maratona.

Casuística e Método

QD: Mulher, 26 anos, branca, solteira, eutrófica, procura Pronto Socorro de Hospital Estadual, na cidade de São Paulo, com queixa de dor torácica há 1 dia.

HPMA: Paciente previamente hígida, refere dor súbita, há um dia, no terço inferior do hemitórax direito, ventilatória dependente, em pontada, inicialmente de fraca intensidade, que foi progredindo durante o dia e piorou após sessão de corrida no final da tarde do dia anterior. Relata que durante a noite, apresentou dificuldade para dormir, devido desconforto na posição de decúbito dorsal, que aliviava com a pronação. Nega o uso de analgésicos no período. 


AP: sem comorbidades, em uso de ACO ( etinilestradiol + levonogestrel)

AF: mãe AVC isquêmico, avô IAM aos 50 anos

EF: bom estado geral, corada, afebril, hemodinamicamente estável, PA 95x60 mmHg, FC 80 bpm e SpO2 99% em ar ambiente. Sem alterações do ritmo cardíaco. Murmúrio vesicular reduzido em base de hemitórax direito, e um aumento do número de incursões respiratórias por minuto. Não apresentava alteração de pulsos, nem sinal de trombose venosa profunda em membros inferiores.

Várias hipóteses diagnósticas foram aventadas para o caso clínico, dentre elas: Pleurite, Pneumonia, Pneumotórax, Fratura de arcos costais, Mediastinite, Pericardite, Pancreatite, Tromboembolismo venoso e Ansiedade. Para melhor elucidar o caso, exames complementares foram solicitados (Laboratoriais, Troponina, BNP, Gasometria arterial, eletrocardiograma).

Resultados

Como não foram encontradas alterações nos exames inicialmente solicitados, o médico do PS resolveu recalcular escore de Wells, totalizando 4,5 pts, e dessa forma Tromboembolismo Pulmonar (TEP) apresentava maior probabilidade diagnóstica, com isso, uma AngioTomografia de Tórax foi solicitada, a qual apresentou resultado positivo para TEP.

Durante a internação, foi solicitado um Ecocardiograma transtorácico, o qual estava dentro dos padrões de normalidade.

Paciente foi tratada inicialmente com Enoxaparina 60mg 12/12h, depois substituído na alta para Rivaroxabana 15mg 12/12h por 21 dias, e seguimento com Rivaroxabana 20mg 1x ao dia.

A mesma continuou acompanhamento na Pneumologia, Hematologia e Medicina Esportiva do mesmo hospital. Exames de controle foram feitos com 3 e 6 meses após a alta hospitalar.

Discussão

Na investigação de dor torácica em atleta, TEP é uma causa pouco lembrada, por se considerar infrequente em atleta, porém vemos o aumento de casos nesse grupo. Não possuímos na literatura a prevalência de Tromboembolismo Venoso em atletas, como também não possuímos um protocolo para tratamento e Return To Play.

Como visto em trabalhos, o escore de Wells quando aplicado em atletas possui um erro de 100% de predizer TEP, o que demonstra a necessidade de um escore modificado para melhorar a acurácia do diagnóstico dessa comorbidade.

Até o momento desse texto, não existe um protocolo adequado de Return to Play, e que a relação médico-paciente é importante para tomadas de decisão e compartilhamento dos riscos.

Conclusão

Podemos concluir que os esportes de endurance favorecem a incidência de novos eventos tromboembólicos, e que devemos conscientizar mais os atletas, principalmente dos sinais e sintomas de alerta. Cabe ao médico do esporte estar em alerta para esses sintomas e não menosprezar essas queixas, o que pode ser crucial para um diagnóstico precoce. Achamos importante a necessidade da criação de um escore modificado de Wells para atletas, o que ajudaria médicos especializados ou não com esporte a aumentarem a acurácia diagnóstica.

Área

Medicina do Esporte

Instituições

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia - São Paulo - Brasil, Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual - IAMSPE - São Paulo - Brasil

Autores

Tamires Ribeiro da Silva Vieira, Rodrigo Ótavio Bougleux Alô, Thiago Ghorayeb Garcia, Rafaela Rossini Buso, Silvio Marques Póvoa Junior, Giuseppe Sebastiano Dioguardi