34º Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e do Esporte e Simpósio Pan-Americano de Medicina do Esporte

Dados do Trabalho


Título

Reconhecimento e Abordagem prática da “Deficiência Energética Relativa no Esporte” (RED-S): Uma Revisão de Literatura.

Introdução e Objetivo

A síndrome da “deficiência energética relativa no esporte” (RED-S), amplamente associada à Tríade da Atleta Feminina, teve sua definição ampliada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), devido às diversas disfunções fisiológicas atreladas ao distúrbio. A baixa disponibilidade energética (DE) interfere não só na taxa metabólica basal, mas também na síntese proteica, ciclo menstrual, saúde óssea, imunidade e regulação hormonal. A RED-S acomete ambos os sexos, apesar de poucos estudos demonstrarem os efeitos na população masculina, o que pode levar ao subdiagnóstico. A seguinte revisão tem por objetivo esclarecer o mecanismo e as consequências metabólicas e endocrinológicas da síndrome RED-S, além de elucidar sobre algumas possibilidades terapêuticas disponíveis.

Casuística e Método

Trata-se de uma revisão de literatura nas bases da dados Scielo, PubMed e Medline, utilizando-se dos termos “Relative Energy Deficiency in Sports” AND “Athlete Triad” AND “endocrinological changes”. Os filtros usados incluem os idiomas português e inglês, em uma janela temporal de 10 anos, de 2012 a 2022. Foram encontrados 18 artigos, dos quais 6 foram usados para esta revisão, seguindo rigorosa seleção.

Resultados

As principais alterações decorrentes da RED-S são ósseas e endocrinológicas, as quais acometem, em sua maioria, mulheres. A DE deflagrada pela síndrome afeta a função tireoidiana e o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, com diferentes repercussões em homens e mulheres. Ademais, outras vias são afetadas, provocando mudanças nos níveis de leptina, no metabolismo de carboidratos, eixo do GH, IGF-1 e tônus simpático e parassimpático. Diante disso, o tratamento é fundamentado na correção da DE e das alterações posteriores à RED-S.

Discussão

A despeito das implicações endócrinas da RED-S, a disfunção tireoidiana, em um contexto de baixa DE, pode levar a síndrome do T3 baixo em poucos dias, indicando que reduções na DE afetam a atividade enzimática da 5’-deiodinase. A redução da DE pode interromper a pulsatilidade do LH, afetando a produção de GnRH, ocasionando desde atraso na menarca até desordens menstruais subclínicas, oligomenorréia e amenorréia. Os níveis de IGF-1, leptina e cálcio que são diminuídos com a baixa DE, além do hipoestrogenismo, favorecem a baixa densidade mineral óssea, osteoporose e fraturas por estresse. No sexo masculino, existem alguns relatos transversais de hipogonadismo hipogonadotrófico, incluindo baixa testosterona e baixa qualidade do sêmen e oligospermia, além de uma taxa aumentada de lesões ósseas por estresse, contudo há poucos dados na literatura que defina valores específicos de balanço energético para definir a RED-S nessa população.
O tratamento se baseia na correção do déficit energético. É fundamental a combinação entre o aumento da ingesta calórica e redução do gasto energético com exercício. Cálcio e vitamina D têm demonstrado grandes benefícios para diminuir fraturas por estresse, bem como na sua recuperação, enquanto o uso de bisfosfonatos, denosumabe, testosterona ou leptina deve ser evitado. Terapia com estradiol transdérmico e progesterona oral em regime cíclico são indicados em curto prazo em mulheres que não tenham restaurado seus ciclos menstruais depois de uma tentativa razoável de intervenção nutricional, psicológica e alteração do regime de exercício.

Conclusão

Diante disso, é possível notar que a RED-S é uma comorbidade de grande importância clínica para a população praticante de atividades físicas e deve ser um diagnóstico suspeitado durante atendimento médico para evitar subdiagnósticos e condutas incoerentes. Entretanto, exige-se que mais estudos sejam realizados, especialmente na população masculina, de modo a explorar alternativas terapéuticas e determinar protocolos que identifiquem aspectos precoces da síndrome, adotando-se sempre uma estratégia multidisciplinar.

Área

Medicina do Esporte

Instituições

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - Mato Grosso - Brasil, UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDONÓPOLIS - Mato Grosso - Brasil

Autores

VICTOR RANZULLA SOUZA, Patrícia Cristiane Gibbert, Guilherme Bezerra Ferreira, Alessandra Martinelli Costa, Luis Felipe Carvalho Viola