Dados do Trabalho
Título
Avaliação do gasto calórico de atletas a partir da medida da massa livre de gordura por densitometria (DEXA) de corpo total.
Introdução e Objetivo
O cálculo do gasto energético diário (GED) é fundamental para determinar o aporte calórico adequado em atletas. A taxa metabólica de repouso (TMR) contribui para a estimativa da GED, mas possui variabilidade durante os ciclos de treinamento. A calorimetria indireta (CI) é considerada o padrão-ouro para estimar a TMR. Contudo, requer um gasto maior de tempo, investimento e logística. Existem diferentes equações para cálculo da TMR. A forma mais antiga de se calcular a TMR foi preconizada por Harris-Benedict (H-B) e tem sido recomendada ainda hoje para atletas segundo o American College of Sports Medicine. A equação de H-B, foi formulada há mais de 100 anos a partir da análise de uma população sedentária tendo, como parâmetros de cálculo: sexo, idade, peso e altura. Diferenças na composição corporal podem influenciar a TMR, uma vez que os músculos consomem quase três vezes mais calorias que o tecido adiposo. Visando compensar essa falha, a equação proposta por Tinsley estima a TMR a partir da massa livre de gordura (MLG) e foi definida originalmente em atletas de fisiculturismo. A fórmula matemática de disponibilidade energética subtrai, do aporte calórico, o gasto energético do exercício e divide essa diferença pela massa livre de gordura. Dentre os métodos não-invasivos de avaliação da composição corporal, a densitometria é considerada o padrão-ouro na avaliação da massa magra e percentual de gordura.
O estudo tem como objetivo otimizar a avaliação do gasto calórico total a partir da medida da MLG por densitometria (DEXA) de corpo total em atletas.
Casuística e Método
Por meio de três métodos distintos, foi calculada a TMR de um paciente de 23 anos, 78kg e 1,87 metro de altura, que realiza atividade física 5 vezes por semana. Os métodos utilizados foram: CI (TMR = [3,941(VO2) + 1,106(VCO2)] x 1440), equação de Harris Benedict (TMR = 66,473 - (6,775 x idade em anos) + (13,7516 x peso em kg) + (5,0033 x altura em cm)) e equação de Tinsley (TMR = 25.9 × MLG + 284). A MLG foi mensurada por meio de DEXA de corpo total, com o paciente em decúbito dorsal no aparelho GE iDXA.
Resultados
Após realização da DXA, o paciente apresentou os seguintes parâmetros da composição corporal: 58,619kg de MLG e índice muscular relativo de 8,37 kg/m2.
Na CI, o paciente apresentou 0,3 de VO2 e 0,26 de VCO2 em repouso. A TMR calculada pela calorimetria indireta foi de 2116,59 cal/dia. A TMR calculada pela equação de Harris Benedict foi de 1916 cal/dia. A TMR calculada pela equação de Tinsley et al foi de 1802,23 cal/dia.
Discussão
Houve significativa variabilidade no cálculo da TMR através dos três métodos. A CI, padrão-ouro para medida da TMR, não é uma realidade acessível a todos os atletas. As equações matemáticas constituem uma forma acessível de se estimar a TMR na prática clínica. Contudo, apresentam peculiaridades responsáveis por diferenças do valor estimado em relação à calorimetria indireta. A equação de Tinsley produziu o resultado mais baixo dentre as três formas de avaliação; possivelmente por valorizar a MLG em detrimento do peso total (massa magra + tecido gorduroso).
No dia de realização da CI, a frequência cardíaca basal do paciente situava-se entre 90 e 100 batimentos por minuto, o que pode ter influenciado os resultados de VO2 e VCO2 e representar um potencial viés na coleta de dados.
Assim, a disponibilidade energética torna-se uma ferramenta atrativa para avaliação do gasto calórico em atletas, pelo fato de ser ajustável ao aporte calórico, à carga de exercício e à MLG.
Conclusão
A DEXA de corpo total pode ser uma alternativa na estimativa da disponibilidade energética a partir da MLG. O cálculo da TMR, variável de acordo com método utilizado, torna-se um parâmetro menos preciso na estimativa do aporte calórico ideal de atletas competitivos. Novas fórmulas, utilizando como parâmetros de ajuste massa magra e o percentual de gordura, podem ser desenvolvidas para estimar com agilidade e precisão a GED de atletas de forma individualizada.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil, Rede Mater Dei de Saúde - Minas Gerais - Brasil
Autores
Mariana Nascimento Muzzi, Caio Delfino Alves Costa, Bruno Muzzi Camargos