Dados do Trabalho
Título
As repercussões do ciclo menstrual no desempenho da mulher atleta
Introdução e Objetivo
Historicamente as descobertas relacionadas ao esporte foram conduzidas em homens e aplicadas às atletas femininas, ignorando aspectos fisiológicos exclusivos. Assim, tendo em vista que 44,6 % das atletas universitárias relatam queda do rendimento no período menstrual, é necessário uma análise dos efeitos das fases do ciclo menstrual nas atletas. Por isso, o objetivo deste trabalho é relacionar os impactos do ciclo menstrual no desempenho da mulher atleta.
Casuística e Método
O presente estudo realizou uma revisão bibliográfica sobre os efeitos das fases do ciclo menstrual no corpo de mulheres atletas.
Resultados
A fisiologia do ciclo menstrual (CM) é regulado pelo eixo hipotálamo - hipófise - ovário e envolve os hormônios folículo estimulante (FSH), luteinizante (LH), estrogênio e progesterona com flutuações que variam em ciclos de 23 a 38 dias. O ciclo pode ser dividido em cinco fases : folicular inicial (FI), folicular tardia (FT), lútea inicial (LI), lútea média (LM) e lútea tardia (LT). A fase FI começa com a menstruação, na qual as concentrações de hormônios sexuais femininos são baixas e estáveis. Na fase FT há um aumento no estradiol com o maturação do óvulo, seguido pelo aumento do FSH e LH, o qual tem um pico antes da ovulação. A fase LI começa após a ovulação, e o folículo rompido se torna o corpo lúteo e secreta progesterona e estrogênio. A fase LM contém o pico de progesterona e uma secreção diminuída de estrogênio, para preparar o endométrio para a implantação de um óvulo fertilizado. A fase lútea terminará com a gravidez se um óvulo fertilizado for implantado. Se não ocorrer a fecundação o corpo lúteo se degradará, diminuindo a progesterona e o estrogênio durante a fase LT, e a menstruação começará novamente.
Resultados de uma revisão narrativa sobre o assunto demonstram que a força e o desempenho aeróbico foram mais comumente relatados como prejudicados na fase LT. Isso se deve ao efeito neuro excitatório do estrogênio e inibitório da excitabilidade cortical da progesterona, produzindo efeitos positivos e negativos com a produção de força. Além de evidenciar um aumento da distração e ansiedade nas fases FI e LT , fator relacionado à redução de estrogênio que ocorre paralela a diminuição da serotonina.
Um artigo que avaliou o desempenho cardiorrespiratório de 21 mulheres em treinamento de endurance, sugeriu um aumento nos valores ventilatórios durante a fase LM em comparação com a fase FT. Isso se deve ao pico de progesterona na fase LM, uma vez que os altos níveis desse hormônio aumentam a sensibilidade dos quimiorreceptores do hipotálamo, diminuindo o limiar do centro respiratório aumentando a ventilação, além disso a presença de receptores de progesterona nos núcleos hipoglosso, relaxa os músculos lisos brônquicos e reduz as contrações dos músculos respiratórios, o que também aumenta a ventilação.
Além disso, estudos recentes concluíram que a lassidão medial e lateral do joelho de atletas aumenta no período lúteo do ciclo, uma vez que ocorre um aumento do hormônio relaxina paralelo a progesterona.
Discussão
Os dados revisados, mesmo com algumas inconsistências de estudos, apontam que as variações hormonais durante o CM das mulheres geram repercussões associadas a força, desempenho aeróbico, lassidão do joelho e ao desempenho percebido. Sendo visível os benefícios que o controle do CM fornece para as atletas que sentem prejuízo em algumas das fases menstruais. As limitações dos estudos estão associadas às pequenas amostras de estudo, bem como a dificuldade de limitar apenas a fase do CM a determinadas alterações.
Conclusão
Com o aumento do protagonismo feminino no esporte é necessário um olhar mais direcionado às repercussões hormonais durante as fases do CM das atletas, pois alterar treinamentos em determinadas fases pode potencializar a performance das atletas. Dessa forma, ressalta-se a importância de mais estudos na área da ginecologia do esporte.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Centro Universitário Campo Real - Paraná - Brasil
Autores
Júlia Beatriz Guedes, Iara Godofredo