Dados do Trabalho
Título
Variante de coronária anômala tipo IV de Spindola-Franco em esportista acima de 35 anos: um relato de caso
Introdução e Objetivo
A origem anômala de coronárias (OAC) é importante causa congênita de morte súbita (MS) em atletas jovens (< 35 anos), porém, pode ser encontrada acima desta faixa etária (atleta master), podendo levar a eventos graves relacionados ao esporte nessa população. Objetivo: destacar a importância da origem anômala de coronárias no diagnóstico diferencial de avaliação pré-participação de atletas master.
Casuística e Método
Trata-se de relato de caso de paciente esportista masculino, 55 anos, diagnóstico há 4 anos de diabetes, hipertrigliceridemia e hipertensão arterial, controlados com as medicações losartana, rosuvastatina, dapagliflozina, metformina e mudanças do estilo de vida. Desde então praticante de corridas de rua (5k, 10k e 21k), em preparação para a primeira maratona (42k). Assintomático e sem histórico familiar de doença arterial coronariana prematura ou morte súbita relacionada ao esporte.
Resultados
Encaminhado de outro serviço para teste cardiopulmonar de exercício que revelou VO2 40,34 ml/kg/min (122,2% do predito), respostas ventilatória e de pulso de O2 fisiológicas e infradesnivelamento do segmento ST em DII, DIII, aVF, V5, V6 e CM5 de 1 mm. Encaminhado para angiotomografia de coronárias que demonstrou variante da Artéria Descendente Anterior (DA) duplicada tipo IV de Spindola-Franco. A DA mais longa tem origem no seio coronariano direito, adjacente à origem da artéria coronária direita, apresenta trajeto transeptal (próximo à via de saída do VD) e intramiocárdico (caracterizando a variante) no septo interventricular proximal e médio, atingindo o ápice cardíaco. A DA mais curta apresenta origem dentro da normalidade e tem trajeto habitual no septo interventricular em seu terço proximal, não atingindo o ápice cardíaco. Discreta placa aterosclerótica proximal em artéria circunflexa. Demais artérias normais. Encaminhado então para cintilografia miocárdica com esforço e Mibi-Tc, demonstrando alterações de ST e ausência de defeitos de perfusão. Função ventricular preservada. Após decisão compartilhada manteve a prática esportiva com limitação de intensidade e distância (21k).
Discussão
A origem anômala das artérias coronárias é mais comum em atletas jovens, sendo mais rara em indivíduos com idade maior que 40 anos. Cerca de 80% dos pacientes apresentam-se assintomáticos, enquanto os outros 20% demonstram manifestações como dor torácica, síncope de esforço e MS. Dentre as anomalias anatômicas, inclui-se a DA dupla, que segue a Classificação Spindola-Franco (I-IV). Todas as classes incluem um ramo curto que termina na porção proximal do sulco interventricular anterior, enquanto o ramo longo é o fator diferencial: Classe I - percorre a superfície anterior do VE; Classes II e IV - percorre a superfície anterior do VD; Classe III - percorre um trajeto intramiocárdico. A Classe IV ainda distingue-se das demais devido à origem do ramo longo ser na artéria coronária direita. Para as anomalias anatômicas, os principais exames para investigação e diagnóstico são o ecocardiograma e a angiotomografia de coronárias. Existem duas formas de manejo, sendo a correção cirúrgica, exclusiva para casos sintomáticos e dependente da anormalidade anatômica, e a restrição de exercício físico, recomendada para os casos assintomáticos e inclui pacientes com idade maior que 40 anos.
Conclusão
O presente trabalho ressalta a importância da origem anômala de coronárias no diagnóstico diferencial da avaliação pré-participação em atletas acima de 35 anos e de exames complementares pertinentes na tomada da decisão compartilhada.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Instituto do Coração de Lages - Santa Catarina - Brasil, Universidade do Planalto Catarinense - Santa Catarina - Brasil
Autores
Jerônimo Costa Estrasulas de Oliveira, Kaius Munhoz de Paula, Elson Paese, Roberto Pereira Waltrick, Verônica Junckes, Natália Veronez Cunha