Dados do Trabalho
Título
Para além da arte: uma análise da prática do ballet clássico na saúde músculo-esquelética de bailarinos profissionais
Introdução e Objetivo
O ballet clássico evoluiu de maneira discordante da pesquisa em atividade física de alto rendimento por ser considerado uma arte que preza pela estética acima da biomecânica de movimento. No entanto, com a evolução do ballet ao longo de gerações, a perfeição da técnica é almejada a partir da repetição excessiva de movimentos anti-fisiológicos que podem sobrecarregar o aparelho locomotor e gerar alterações patológicas em ossos, músculos, tendões e articulações, exigindo demasiada capacitação física por parte de seus praticantes. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo analisar o impacto da prática do ballet clássico na saúde músculo-esquelética de bailarinos profissionais.
Casuística e Método
Para este estudo, caracterizado como exploratório, foram selecionados 17 artigos científicos da plataforma “Google Acadêmico”, publicados entre 2001 e 2024 e analisados em uma revisão de literatura. A população-alvo é composta por bailarinos profissionais em exercício de suas atividades laborais. A análise qualitativa dos dados envolveu a tabulação das principais lesões músculo-esqueléticas, agrupadas por região corporal, permitindo traçar os mecanismos fisiopatológicos, fatores de risco, padrões e categorias das lesões.
Resultados
A prática do ballet clássico enfatiza o En dehors como princípio primordial, referindo-se à máxima rotação externa dos quadris e membros inferiores. Esse conceito está presente em todas as posições básicas dessa modalidade, caracterizadas como “anti-anatômicas”. Desse modo, quando a angulação adequada na rotação das articulações coxofemorais (60°) não é alcançada, um mecanismo compensatório é frequentemente utilizado para atingir a rotação desejada entre os pés (180°), resultando em sobrecarga e tensão em outras estruturas articulares, como joelhos, pés e tornozelos. Entre outros mecanismos fisiopatológicos relacionados a lesões na modalidade descritos na literatura, destacam-se o uso de sapatilha de ponta, a hipermobilidade articular, a remodelação óssea e o excesso de treinamento.
Com relação a distribuição das lesões, destacam-se os membros inferiores como principais acometidos, bem como as tendinites como as principais categorias citadas.
Discussão
Os padrões de movimentos anti-anatômicos associados a variações fisiológicas e músculo-esqueléticas presentes em biotipos corporais diversos, diferem o ballet de demais práticas esportivas que não requerem um padrão osteomuscular específico, do qual privilegiam-se corpos magros, longilíneos e alongados, associados a características físicas como força, flexibilidade e resistência. Dessa forma, na tentativa de convergir um biotipo físico ideal — por vezes distante da realidade — a uma técnica extremamente rigorosa, os bailarinos clássicos profissionais são conduzidos a um conjunto peculiar de lesões associadas.
Conclusão
Diante da revisão da literatura, conclui-se que a prática do ballet clássico pode acarretar prejuízos aos seus praticantes profissionais, no que tange à saúde e à integridade do sistema músculo-esquelético. Os riscos referem-se às lesões, que ocorrem com alta prevalência, e que estão associadas a diversos mecanismos, como a execução errônea da técnica, a presença de hipermobilidade articular, o uso de sapatilha de ponta e o excesso de exercícios executados de maneira “anti-anatômica” e de forma repetitiva.
Portanto, torna-se essencial a implementação de estratégias preventivas focadas no fortalecimento muscular e na conscientização sobre lesões associadas à modalidade para a garantia da longevidade desses profissionais na carreira artística.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Universidade do Grande Rio- Unigranrio - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
Luiza Ferreira Turibio da Silva , Guilherme Da Silveira Bruno