Dados do Trabalho
Título
Relato de Caso: Auxílio de Smartwatch no Diagnóstico de Taquicardia Supraventricular Paroxística em Atleta Petiz de Natação
Introdução e Objetivo
O uso de dispositivos vestíveis, como smartwatches, tem se tornado cada vez mais comum no monitoramento de dados de saúde durante o exercício físico. Com o avanço da tecnologia, esses dispositivos permitem a identificação de alterações no ritmo cardíaco por meio de traçados eletrocardiográficos simples, o que é especialmente útil na detecção de arritmias intermitentes. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de identificação e manejo de taquicardia supraventricular paroxística (TSVP) em um atleta petiz de natação.
Casuística e Método
Paciente masculino, 12 anos, natural de São Paulo, atleta competitivo na categoria petiz de natação. Pratica a modalidade desde os 5 anos de idade e compete em alto rendimento desde os 9 anos. Nega comorbidades e histórico familiar de arritmia ou morte súbita. Em abril de 2023, logo após um treinamento intenso, apresentou o primeiro episódio de palpitações, acompanhado de dor precordial, dispneia, palidez e náuseas, com duração aproximada de 30 minutos, seguido de resolução espontânea dos sintomas. Cerca de uma hora depois, em repouso, o quadro recorreu, desta vez com duração de 20 minutos, novamente com resolução espontânea. Os mesmos sintomas ocorreram em agosto de 2023, com resolução espontânea em 20 minutos. O paciente compareceu ao pronto-socorro em todos os episódios, mas estava assintomático no momento da avaliação, e os exames cardiológicos não mostraram alterações. Em setembro de 2023, foi encaminhado ao serviço de medicina esportiva da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) para investigação do quadro. Foram solicitados eletrocardiograma, teste ergométrico, Holter de 24 horas e ressonância magnética cardíaca, mas todos os exames apresentaram resultados dentro da normalidade. Após acordo com a família, o paciente foi liberado para retomar suas atividades esportivas, com a recomendação de monitorar os sintomas utilizando um smartwatch Samsung Galaxy Watch 4, que realiza o registro eletrocardiográfico. Após três semanas, o paciente retornou ao serviço relatando um novo episódio sintomático durante a prática recreativa de futebol. O evento teve duração de 5 minutos e foi acompanhado pelos mesmos sintomas descritos anteriormente. O registro no smartwatch evidenciou taquicardia supraventricular paroxística, com frequência cardíaca de 190 batimentos por minuto (bpm).
O paciente e seus familiares assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE)
Resultados
Prosseguindo de forma segura com o caso, a prática esportiva foi suspensa e o paciente foi encaminhado para um estudo eletrofisiológico, que diagnosticou taquicardia atrioventricular reentrante nodal tipo lento-rápida (TAVN). O paciente realizou ablação percutânea com sucesso em novembro de 2023 e, em janeiro de 2024, retornou aos treinamentos de natação assintomático.
Discussão
Este caso demonstra o uso de smartwatches na detecção de arritmia supraventricular paroxística. Esses dispositivos atualmente registram ritmos sinusal, fibrilação atrial e inconclusivo, com acurácia variando de 76% a 99%. Embora haja um crescente interesse em sua capacidade de identificar outras arritmias, uma revisão sistemática de PAY et al. identificou 13 casos de taquicardia supraventricular paroxística detectados. Apesar de sua praticidade, os smartwatches ainda enfrentam limitações, como acessibilidade, possibilidade de falsos positivos ou negativos, monitoramento durante atividades contínuas, restrição do número de derivações e da faixa de frequência cardíaca.
Conclusão
O uso de smartwatch na investigação de arritmia ganha importância em cenários de alta probabilidade pré-teste por ser um instrumento não-invasivo, móvel e adaptado aos esportes aquáticos.
Área
Medicina do Esporte
Autores
Marlon Manhães Faes, Filippe Martins Miranda, Higgor Amadeus Martins, Melissa Mari Yoshida, Leandro Santini Echenique