Dados do Trabalho
Título
CARDIOPATIA CONGÊNITA ASSINTOMÁTICA EM ATLETA DE ALTO RENDIMENTO
Introdução e Objetivo
Embora rara, a presença de cardiopatia congênita em atletas pode ser uma realidade preocupante. Neste resumo, relatamos desde o diagnóstico de comunicação interatrial assintomática em um atleta de futebol de campo até seu retorno às atividades, enfatizando a importância da detecção precoce e o manejo adequado dessas condições, que são fundamentais para garantir a segurança desses atletas. Estratégias para reduzir essas tragédias altamente visíveis, incluindo triagem pré-participação e supervisão médica de treinamento e competição, estão bem estabelecidas e podem levar à identificação de atletas com cardiopatia não diagnosticada. Para o atleta competitivo diagnosticado com cardiopatia, a determinação da futura elegibilidade atlética exige cuidados que começam com o diagnóstico e segue durante o tratamento de longo prazo. Fundamentalmente, a determinação da elegibilidade é uma busca para reduzir o risco de morte súbita futura e, ao mesmo tempo, evitar restrições desnecessárias ao esporte.
Casuística e Método
Foi feito um relato de caso de um atleta do futebol de base do Clube de Regatas do Flamengo.
Resultados
Paciente masculino, 14 anos, sem comorbidades ou histórico familiar, atleta de alto rendimento de futebol de campo, iniciou os exames de avaliação pré-participação para ingressar em um novo clube. Durante os testes, a partir da realização de um ecocardiograma transtorácico que evidenciou as seguintes alterações:
1. CIA tipo ostium secundum com shunt E/D.; 2. Leve aumento das dimensões de VD, sugere fusão parcial da rafe entre cúspides CE e CD da valva aórtica com função valvar preservada; 3. Função sistólica preservada; 4. PSAP normal.
Foi realizado um novo exame duas semanas após o primeiro, o qual ratificou o diagnóstico:
1. Aumento do volume biatrial. Demais câmaras e espessuras de paredes normais; 2. Função sistólica biventricular está normal. Função diastólica normal; 3. Valva aórtica tricúspide, de difícil avaliação, porém sugere leve fusão das rafes de CE e CD, sem causar significativa restrição a sua abertura; 4. Presença de CIA (sugere padrão de “óstio secundum” pela localização), com fluxo preferencial E>D. Estima-se comprimento do orifício de 0,74cm; 5. À manobra de valsava, evidencia-se microbolhas injetadas por via venosa penetrando em câmaras esquerdas (AE>VE); 6. Presença de valvuleta de Eustaquio bem evidente, apresentando ponto de contato com o septo interatrial.
Optamos, dessa forma, pela consulta com especialista em cardiopatia congênita, que indicou como terapia a oclusão do shunt por via percutânea. O procedimento foi realizado sem intercorrências.. Em ECOTT e teste ergométrico pós operatório, o atleta não apresentou achados significativos, e, seguindo as diretrizes, o atleta retornou gradualmente às atividades sem quaisquer queixas.
Discussão
A avaliação pré participação é uma ferramenta diagnóstica imprescindível para a triagem de cardiopatia congênita assintomática, e prevenção de morte súbita. Nesse sentido, em se tratando do rastreio diagnóstico em atletas, durante a avaliação pré-participação o ecocardiograma pode assumir papel relevante, pela possibilidade de diagnosticar as principais doenças implicadas em morte súbita em atletas. Entretanto, deve ser reservado para os casos com história clínica ou familiar ou achados suspeitos no exame físico, bem como para os casos em que o eletrocardiograma apresenta alterações suspeitas de miocardiopatia.
Conclusão
A cardiopatia congênita assintomática em atletas de alto rendimento é um desafio para a medicina esportiva. A detecção precoce e o manejo adequado são fundamentais para garantir a segurança e o bem-estar cardiovascular desses atletas. Embora seja uma condição rara, não podemos negligenciar a possibilidade de anomalias cardíacas em indivíduos que praticam esportes de alta intensidade, ainda que assintomáticos.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
Maria Isabella Osório Cavalcanti de Jardim Sayão, Daniel Derossi, Fernando Claudio Sassaki Martinho Reis, Michel Wassersten, Fernando Bassan, Marcio Alves Tannure