Dados do Trabalho

Título

Indicadores de Mobilidade e Força Muscular em Pacientes com Obesidade Severa

Introdução e Objetivo

A obesidade é uma condição complexa e multifacetada que afeta negativamente vários aspectos da saúde e da qualidade de vida dos indivíduos. Uma das formas mais utilizadas para classificar a obesidade é a proposta pela Organização Mundial da Saúde, através do Índice de Massa Corporal (IMC) calculado pela fórmula IMC= Peso (kg) / Altura (m)². A partir do cálculo do IMC o indivíduo pode ser classificado com obesidade Grau 1 (IMC entre 30 e 34,9), Grau 2 (IMC entre 35 e 39,9) ou Grau 3 (IMC acima de 40). A literatura traz que, dentre as complicações associadas à obesidade grau 3, pode estar a sobrecarga nas articulações e fraqueza muscular, reduzindo a mobilidade funcional e diminuição da capacidade cardiorrespiratória, prejudicando a qualidade de vida e o bem-estar geral do indivíduo. Com base nisso, o presente estudo analisou a relação entre o IMC e a capacidade funcional (mobilidade, equilíbrio, força muscular e flexibilidade) em pacientes com obesidade severa.

Casuística e Método

Trata-se de um estudo epidemiológico de caráter observacional com delineamento transversal, de acordo com as recomendações estabelecidas pelo Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology. Foi realizada uma pesquisa retrospectiva, com utilização de prontuários de pacientes adultos na lista de espera para cirurgia bariátrica no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, no período de março de 2021 a julho de 2024. Para avaliação da mobilidade funcional e força muscular, foram utilizados os testes: Timed Up and Go (TUG) para agilidade e mobilidade; Banco de Wells para flexibilidade; Teste de Apoio Unipodal (TAU) para equilíbrio; e Teste de Sentar e Levantar (TSL) para força de membros inferiores. Os dados foram analisados utilizando estatística descritiva e o teste de correlação de Spearman, com o auxílio do software Jamovi, e um nível de significância de 0,05.

Resultados

A amostra do estudo incluiu 268 pacientes, ambos os sexos, idade de 42,6±10,4 anos e IMC de 48,5±10,4. O tempo médio para a realização do TUG foi de 8,26 segundos, enquanto para o TAU foi de 22,35 segundos. O TSL apresentou média de 13,0±4,21 repetições e o alcance médio da flexibilidade foi de 15,1±8,69cm. A análise inferencial revelou que todos os testes apresentaram uma relação inversa, estatisticamente significativa, com o IMC (p<0,05). Em outras palavras, à medida que o IMC aumenta o desempenho nos testes de mobilidade, equilíbrio, força muscular e flexibilidade tendem a piorar.

Discussão

Além da obesidade ser associada a comorbidades como diabetes mellitus tipo 2, hipertensão, problemas articulares, aumento do risco de doenças cardiovasculares e prejuízo na saúde mental, através do resultado do presente estudo também pode-se observar uma relação significativa com o comprometimento da capacidade funcional. Isso inclui principalmente a força muscular, mobilidade, flexibilidade e equilíbrio, os quais são fatores essenciais para a realização de atividades diárias básicas como sentar e levantar de uma cadeira ou subir escadas. Assim, os resultados apresentados corroboram com recentes estudos que afirmam que à medida que o IMC aumenta, observa-se uma deterioração na capacidade funcional dos pacientes, refletida na maior dificuldade em manter o equilíbrio, menor número de repetições no teste de força muscular e menor alcance de flexibilidade, criando um ciclo prejudicial a saúde e qualidade de vida.

Conclusão

A severidade da obesidade implicou em piores resultados em diferentes componentes da capacidade funcional. Desta forma, para além da diminuição da gordura corporal, esses achados ressaltam a necessidade de implementar intervenções abrangentes, como através da realização de exercícios físicos, priorizando o restabelecimento da capacidade funcional para que seja garantida a realização das atividades diárias básicas e, assim, a melhoria da qualidade de vida em pessoas com obesidade.