Dados do Trabalho


Título

Traumatismo cranioencefálico e concussão cerebral em jogadores de futebol na Copa Conmebol Libertadores 2023: epidemiologia e atendimento médico no campo de jogo

Introdução e Objetivo

As características epidemiológicas e a avaliação médica de jogadores com Traumatismo cranioencefálico (TCE) com potencial risco concussão durante as partidas de futebol são preocupações crescentes nos dias atuais. A Análise de Vídeo (AV) é uma ferramenta importante para reconhecer o TCE, incluindo sinais de concussão. O objetivo desse estudo é reportar as características epidemiológicas do TCE e de eventuais concussões em jogadores de futebol na Copa Conmebol Libertadores 2023 com a utilização da AV, além de analisar o atendimento médico no campo de jogo.

Casuística e Método

Estudo epidemiológico observacional com AV dos 125 jogos (96 na fase de grupos e 29 eliminatórios) da Copa Conmebol Libertadores 2023, baseado em publicações recentes sobre concussão relacionada aos esportes com utilização das imagens de vídeo. Foi considerado TCE todo evento no qual um ou mais jogadores tiveram trauma na cabeça. Um protocolo foi elaborado para registrar as características do TCE e da duração do atendimento médico. Para o diagnóstico de potenciais concussões, foi analisada a presença dos seguintes sinais: lentidão ao se levantar, desorientação, incoordenação motora, perda de consciência, mãos levadas à cabeça e convulsão após impacto.

Resultados

Dos 125 jogos, foram registrados TCEs em 77 (59,2%). O número total de TCEs foi de 170 (média de 1,36 por jogo). Dos 170 jogadores que sofreram TCE, 67 receberam atendimento médico (45,3%), com duração média da avaliação de 1’24’’. As principais causas foram: cabeça x cabeça – 26 eventos (52 TCEs), cabeça x cotovelo – 46, bolada inesperada na cabeça – 14, cabeça x ombro – 12, cabeça x joelho – 11, cabeça x antebraço – 11, outras – 24. Apenas 2 jogadores apresentaram sinais de concussão (2,6% dos TCEs), sendo um substituído imediatamente após o TCE e o outro após 28 minutos após o trauma. O tempo de atendimento a esses jogadores foi de 5’32’’ e 1’36’’, respectivamente. Quatro jogadores apresentaram ferimento corto contuso (FCC) em couro cabeludo. A maioria dos TCEs aconteceu com a bola rolando: 144 (90,0%).

Discussão

O número total de TCEs por jogo foi de 1,36. O número de atendimentos médicos no campo de jogos foi de 45,3%, o que sugere uma diminuição da incidência de TCEs e uma melhora do atendimento médico ao jogador no campo de jogo. O choque entre cabeças foi o mais frequente, porém houve um aumento da incidência de TCE por cotovelada. A maioria dos TCEs aconteceu com bola rolando e na faixa que compreende o meio de campo e a linha da grande área. Os resultados também confirmam que a duração média do atendimento médico (1’24’’) continua abaixo do preconizado pelos protocolos atuais. Apenas 2 jogadores apresentaram sinais de concussão, sendo que um deles foi substituído logo após o TCE e o outro, apenas 28 minutos após o trauma, sendo que sua avaliação do campo de jogo durou apenas 1’36’’, o que aponta para uma eventual falha na avaliação inicial.

Conclusão

Apesar das limitações, a AV é uma ferramenta útil não só para identificar o TCE, como também sinais de potenciais concussões. A AV pode funcionar como uma ferramenta auxiliar no atendimento médico aos jogadores. Este estudo mostra o aumento do número de atendimentos médicos aos jogadores com TCE, porém ratifica a curta duração desta avaliação, persistindo a lacuna entre os protocolos formais e a prática médica na principal competição do continente sul-americano. Além da substituição adicional para jogadores com concussão já implementada, a ideia de alterar a regra do futebol, criando uma substituição temporária para jogadores com sinais de concussão, deve ser debatida. Isso permitiria um tempo adequado para a avaliação médica dos jogadores, preservando sua integridade, sem prejuízo da dinâmica e do ambiente competitivo do esporte.

Área

Medicina do Esporte

Instituições

Universidade Estadual de Maringá - Paraná - Brasil

Autores

Vinicius Da Silva Guidini, Cármine Porcelli Salvarani, Bruno Jun Komagome , Eduardo Nanni Calvo, Vitor Augusto Machado, Valdemar Leonardo Batista Bravin