Dados do Trabalho
Título
Monitoramento Contínuo de Glicose em Atletas de Endurance: Avanços Tecnológicos na Nutrologia do Esporte de Endurance - Revisão
Introdução e Objetivo
A busca por melhorar a performance esportiva envolve o aprimoramento de equipamentos, treinamentos e alimentação. Embora os carboidratos (CHO) sejam essenciais para atletas de endurance, desafios como desconforto gastrointestinal e hipoglicemia dificultam o cumprimento das recomendações nutricionais. O avanço de tecnologias, como os monitores contínuos de glicose (CGM), inicialmente desenvolvidos para diabéticos, agora também pode beneficiar atletas, ajustando a ingestão de CHO de forma personalizada durante treinos e competições. Esta revisão investiga a eficácia do CGM na otimização da glicose, recuperação e performance esportiva em atletas de endurance.
Casuística e Método
Revisão integrativa da literatura, nas bases de pesquisa PUBMED, em Agosto de 2024, utilizando os termos ((athletes OR "endurance athletes" ) AND ("continuous glucose monitoring" OR CGM) AND ("carbohydrate intake" OR "carbohydrate consumption" OR "carbohydrate optimization"). Contemplando estudos de 2016 a Agosto de 2024. Os critérios de inclusão utilizados foram: estudos Clínicos em todas as suas formas, avaliação do uso de monitor de glicemia continua, atletas de endurance não diabético, avaliação de melhora de performance, uso de CHO e estudos já finalizados. Resultou em 24 estudos, dos quais 11 foram descartados por focarem em diabetes, 4 por avaliarem o impacto do CHO na glicemia, 1 por envolver não atletas, e 1 por incluir medicação. Adicionados 10 artigos relevantes como contra-referência. No total, 16 estudos foram selecionados.
Resultados
Os CGM têm se mostrado ferramenta eficaz para ajustar, em tempo real, a ingestão de CHO em atletas de endurance. O estudo de Inamura et al. (2024) demonstrou que corredores que consumiram mais CHO nas fases iniciais de uma ultramaratona mantiveram níveis glicêmicos estáveis, associados à melhor desempenho (rho = 0,700, p = 0,036). Já os corredores com maiores flutuações glicêmicas apresentaram pior desempenho e maior risco de hipoglicemia (rho = -0,612, p = 0,012). A personalização nutricional foi evidenciada por Podlogar e Wallis (2022), ao mostrar que o CGM ajusta a ingestão de CHO com base nas respostas individuais, evitando picos e quedas bruscas de glicose. Ishihara et al. (2020) corroborou essa abordagem, observando uma correlação significativa entre a ingestão de CHO (0,27 a 1,14 g/kg/h) e a velocidade de corrida (p < 0,01). No estudo de Kulawiec et al. (2021), a variabilidade glicêmica aumentou significativamente no dia de um teste de exaustão e retornou ao normal nos dias seguintes, sugerindo que o CGM pode monitorar a recuperação e ajustar a ingestão nutricional adequadamente. Thomas et al. (2016) também indicaram que o CGM pode ajudar a prevenir hipoglicemia. Em competições de longa duração, o CGM demonstrou ser eficaz na prevenção de quedas bruscas nos níveis de glicose. O estudo Sengoku et al. (2015), mostrou que corredor recreativo apresentou hipoglicemia (<70 mg/dL) após 80 km, prejudicando seu desempenho e que em atletas de elite, que conseguem manter níveis glicêmicos estáveis, mesmo com uma menor ingestão de carboidratos.
Discussão
O uso de CGMs em atletas de endurance ajusta a ingestão de CHO em tempo real, prevenindo desequilíbrios glicêmicos que afetam o desempenho. Contudo, sua eficácia varia conforme a adaptação dos atletas e as condições de exercício. A precisão dos CGMs em exercícios intensos e a variabilidade individual são limitações. Estudos futuros devem explorar glicemia, fadiga e recuperação.
Conclusão
Embora o CGM ofereça benefícios promissores na otimização da ingestão de CHO, desempenho e recuperação em atletas de endurance, ainda enfrenta desafios técnicos, como precisão durante exercícios intensos e fixação dos sensores. Com o avanço das pesquisas e superação desses obstáculos, o CGM pode se consolidar como uma ferramenta essencial para atletas de alta performance. Mais estudos são necessários para validar sua aplicação.
Área
Medicina do Esporte
Autores
Janete Rabelo Rios, Alessandra Bedin-Pochini, Guilherme Vieira Giorelli