Dados do Trabalho


Título

Pré-excitação ventricular em atleta de futebol feminino e a importância da avaliação pré-participação na prevenção de morte súbita.

Introdução e Objetivo

As síndromes de pré-excitação ventricular (SPEV) são importantes causas de morte súbita em atletas jovens. Elas são caracterizadas pela presença de uma via anômala (VA) de condução entre os átrios e ventrículos. As principais diretrizes recomendam, uma vez que o achado é encontrado no eletrocardiograma, a realização de estudo eletrofisiológico e posterior ablação da VA. Este trabalho tem como objetivo descrever o fenótipo da apresentação desta síndrome em uma atleta profissional de futebol, suas particularidades, e correlacionar os dados da literatura disponíveis sobre a doença neste perfil de pacientes.

Casuística e Método

Paciente do sexo feminino, 22 anos, atleta competitiva de futebol, assintomática e sem alterações ao exame físico, sem antecedentes significativos e sem fatores de risco para doença arterial coronariana. Comparece a avaliação pré-participação no dia 06/08/2024 para admissão em time de futebol feminino profissional de Minas Gerais. Joga profissionalmente há mais de 03 anos e após realização de exames cardiológicos nos dois últimos clubes foi liberada para prática esportiva competitiva. Submetida a teste ergométrico (TE), que demonstrou intervalo PR curto e QRS sugestivo de onda delta durante repouso e infra desnivelamento de segmento ST de 3mm no pico de esforço. Holter indicou a presença de pré-excitação ventricular fixa durante todo o exame caracterizado por intervalo PR curto (90ms), complexos QRS alargados (duração de mais que 135ms) e empastamento de sua porção inicial caracterizando uma onda Delta. Ecocardiograma transtorácio sem alterações significativas.

Resultados

A paciente em questão foi considerada inapta para prática esportiva e encaminhada à serviço assistente para realização de estudo eletrofisiológico, conforme indicam as diretrizes de grandes sociedades. Segue aguardando avaliação para posterior ablação da VA.

Discussão

Apesar de o risco de fibrilação ventricular e colapso hemodinâmico ser baixo em pacientes assintomáticos, deve-se atentar ao fato de que, no esforço, a descarga adrenérgica pode favorecer a condução elétrica pela VA. Dessa forma, é indicada ablação da VA com catéter em atletas, mesmo sem sintomas. Vale ressaltar que a presença de infradesnivelamento do segmento ST ao TE não é indicativo, necessariamente, de infarto agudo do miocárdio. Pode resultar da condução pela VA que geraria uma despolarização e repolarização aberrante. Outro achado relevante, é a persistência da onda delta e outras sinais de pré-excitação durante toda a realização do teste ergométrico, o que revela ainda um maior risco de malignidade do quadro.

Conclusão

A despeito da já estabelecida relação entre a pré-excitação e o risco de morte súbita, pouco há na literatura a respeito de suas consequências para atletas de futebol, e tampouco do sexo feminino. Portanto, destaca-se a importância da avalição pré-participação tanto com eletrocardiograma quanto com o teste ergométrico para a detecção deste tipo de anormalidade, além de ampliar a investigação acerca das apresentações clínicas das SPEV neste perfil de pacientes.

Área

Medicina do Esporte

Instituições

Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil

Autores

Caio Delfino Alves Costa, Mariana Nascimento Muzzi, Andrezza de Oliveira Mendes