Dados do Trabalho
Título
Há risco de desidratação e hiponatremia em atletas de alto rendimento de Karatê?
Introdução e Objetivo
Nos Jogos Olímpicos (2024), os esportes de combate olímpicos (ECO) representaram 30% das medalhas para o Brasil. Atletas destas modalidades, como o Karatê, podem ter alto risco de desidratação e perda de eletrólitos, tanto intencional (bater o peso), como não (dogui, treinamento, ambiente, falta de reposição). O objetivo deste estudo foi avaliar o estado hídrico, e o risco de hiponatremia, em treinamento oficial de atletas de alto rendimento do Projeto São Paulo Olímpico da Federação Paulista de Karatê (FPK), com finalidade de correção hídrica suplementar para salvaguardar a saúde e propiciar alto rendimento esportivo.
Casuística e Método
Participaram 27 atletas de kumitê (luta), sendo 55,5% do sexo masculino, que realizaram avaliação antropométrica e da composição corporal (COEP 122/10). Para o estado de hidratação, o volume de suor foi obtido por diferença da massa corporal corrigida pela ingestão (líquidos e suplementos hidroeletrolíticos), e excreção urinária; além da gravidade específica da urina (GEU). Para a concentração de eletrólitos e natremia, foram utilizados adesivos coletores de suor (torso, escápula e coxa). A umidade relativa do ar (URA) e temperatura, foram monitorados com termo-higrômetro (Minipa modelo MT-240). Os dados foram expressos em medidas de tendência central e variabilidade.
Resultados
Os atletas possuíam em média 23,0 (7,0) anos; massa corporal 66,8 (15,0) kg; estatura 1,7 (0,1) m e percentual de gordura 16,0 (5,2)%. Após um treinamento de 270min (URA 47% a 23,3º.C), a GEU foi de 1,020 (0,008) g/L, sendo que 64% apresentaram desidratação de moderada a grave. A taxa de sudorese 0,7 (0,3) L/h; percentual de perda de peso 0,7 (0,2)%; ingestão hídrica total de 1,3 (0,2)L, parâmetros indicadores de risco leve para desidratação. Porém, referente a excreção de sódio de 567,2 (316,7) mg/L, constatou-se que 33,3% apresentavam perdas de moderada a grave, apesar da ingestão de 322 (213) mg durante o treinamento. O consumo de carboidratos foi de 13,9 (8,9) g/h, abaixo do necessário para o rendimento intra-treinos.
Discussão
A avaliação da desidratação é fundamental em esportes com pesagem prévia. Uma investigação com 345 atletas de ECO, ambos os sexos, compararam diferentes métodos de avaliação da hidratação e validou a GEU como a mais efetiva para utilização em campo, aliada a sua praticidade e facilidade. Os resultados com GEU, apontaram que 64% dos atletas estavam desidratados previamente ao treinamento, embora não se tenha investigado se este estado foi atingido de maneira deliberada ou não. Apesar do treinamento não induzir um risco alto de desidratação, um achado interessante foi que 33,3% apresentaram perdas de moderada a alta de sódio, colocando-os em um risco mais iminente de hiponatremia do que desidratação. A prevalência de hiponatremia é bem conhecida em esportes com componente de endurance, como ultra-maratona (30-51%), maratona (~22%), triatletismo (~28%) etc. Os atletas podem ser assintomáticos, mas quando sintomáticos apresentam fadiga, perda de energia, inquietação, irritabilidade, enjoô, espasmos etc. Outro ponto de atenção é a inespecificidade dos sintomas, que pode contribuir para sua confusão com fatores relacionados ao desgaste do treinamento.
Conclusão
Este foi o primeiro trabalho a investigar a hidratação e natremia em ambiente não laboratorial, em treinamento preparatório para competições internacionais. Como resultado inédito, em um esporte intermitente, constatou-se que 1/3 dos atletas correm risco de hiponatremia, apesar da possibilidade de ingestão de líquidos/suplementos ad libitum e apresentarem perdas hídricas condizentes com o treinamento e ambiente. Estes achados indicam claramente a necessidade de intervenção hídrica suplementar (suplemento e repositor hidroeletrolítico), e de carboidratos para salvaguardar a saúde e rendimento dos atletas de alto nível de karatê da seleção paulista. Adicionalmente, a realização de exames bioquímicos, pode esclarecer o risco associado a alta perda sem a adequada reposição suplementar.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Plenitude Educação - São Paulo - Brasil
Autores
Luciana Rossi