Dados do Trabalho
Título
Associação entre a Arquitetura Ultrassonográfica do Quadríceps Femoral e a Massa Muscular Esquelética Total em Indivíduos com Doença Aterosclerótica
Introdução e Objetivo
A aterosclerose representa uma das principais causas da Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP), um distúrbio comum em indivíduos idosos que frequentemente impacta aspectos musculares, corporais e funcionais. Pacientes com esta condição são, tipicamente, menos fisicamente ativos que indivíduos da mesma faixa etária. Entretanto, embora a redução na massa músculo esquelética seja comumente encontrada em indivíduos afetados, a Sarcopenia é ainda uma condição subdiagnosticada na DAOP. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa foi avaliar se componentes da arquitetura do quadríceps femoral se associam à Massa Muscular Esquelética Total (MMET) em indivíduos com doença aterosclerótica.
Casuística e Método
Foi realizado um estudo transversal com pacientes hospitalizados com DAOP. Dados relativos à MMET corporal foram obtidos por meio de bioimpedância elétrica. Foi realizada a coleta bilateral de imagens ultrassonográficas do músculo quadríceps femoral, com os participantes posicionados em decúbito dorsal e com a musculatura de membros inferiores relaxada. As imagens foram analisadas por meio do Software ImageJ e parâmetros arquitetônicos musculares foram quantificados por meio de um plugin de análises semi-automáticas que minimiza a influência do examinador. Os parâmetros da arquitetura muscular analisados foram: espessura muscular isolada do Reto Femoral (RF), espessura combinada do Vasto Intermédio (VI) e Reto Femoral, espessura, ângulo de penação e comprimento do fascículo do Vasto Lateral (VL). Um modelo de regressão linear múltipla, ajustado pela idade e pelo sexo dos participantes, foi criado para determinar a associação entre os parâmetros ultrassonográficos e os dados da bioimpedância.
Resultados
Foram avaliados 57 participantes, sendo 31 homens (54,38%) com média de idade de 65,7 anos (±9,02) e MMET média de 25,54 kg (±7,69) e 26 mulheres (45,62%) com média de idade de 71,5 anos (±12,49) e MMET média de 15,95 kg (±5,87). Associações significativas foram encontradas entre a MMET e a espessura do reto femoral (β = 15,17; 95IC 6,25-24,10; p = 0,001), a espessura combinada do RF e VI (β = 6,87; 95IC 2,30-11,43; p = 0,004), a espessura do VL (β = 6,66; 95IC 1,05-12,28; p = 0,021) e o comprimento do fascículo do VL (β = 1,13; 95IC 1,44-1,82; p = 0,002). O ângulo de penação do VL não demonstrou associação com a MMET (β = -0,208; 95IC -0,74-0,33; p = 0,442).
Discussão
Sabe-se que a contribuição de fatores musculoesqueléticos para a redução da funcionalidade em indivíduos com doença aterosclerótica ainda é pouco clara. Neste estudo verificou-se que há uma ligação entre o tamanho das fibras musculares e a massa muscular total destes indivíduos. Entretanto, não foi demonstrada uma associação entre MMET e o ângulo de penação do VL, sendo que este é um componente da arquitetura e biomecânica muscular que influencia diretamente a geração de força de um músculo. Tais dados sugerem que, no indivíduo claudicante, a diminuição de massa muscular resulta de adaptações que afetam principalmente a quantidade e o comprimento das fibras musculares, enquanto o ângulo de penação pode permanecer estável. Isso corrobora com estudos prévios que indicam que exercícios excêntricos podem ser mais efetivos para aumentar a capacidade de resistência à caminhada na DAOP, já que nesta modalidade de treino há um aumento dos sarcômeros em série sem que, necessariamente, haja um aumento da penação muscular.
Conclusão
Os dados sugerem que parâmetros arquitetônicos do quadríceps femoral podem se comportar como preditores da condição geral da musculatura de indivíduos idosos, já que podem refletir efetivamente a MMET. A partir disto, intervenções específicas como, por exemplo, treinamentos resistidos planejados, podem ser elaboradas utilizando-se ferramentas de fácil diagnóstico com potencial para minimizar os impactos musculares relacionados a doenças crônicas e ao processo de senescência.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) - São Paulo - Brasil
Autores
David do Nascimento Pereira, Marcone Lima Sobreira, Paula Schmidt Azevedo, Rodrigo Gibin Jaldin