Dados do Trabalho


Título

EFEITO DA ASSIMETRIA DO CÓRTEX FRONTAL E DO PLACEBO PERCEBIDO COMO CAFEÍNA SOBRE O DESEMPENHO FÍSICO

Introdução e Objetivo

O efeito placebo resulta da crença ou condicionamento ao uso de uma substância ou procedimento sem efeitos ativos (placebo), mas com repercussões benéficas em diferentes desfechos como, por exemplo, sobre o desempenho físico e respostas cerebrais. Isso ocorre frequentemente quando da expectativa de ingestão de substâncias ergogênicas, como por exemplo, a cafeína. Porém, ainda não está claro se o efeito placebo da cafeína pode potencializar o desempenho físico com influência da ativação assimétrica do córtex frontal.
Sendo assim, o estudo busca verificar se o efeito placebo da cafeína melhora o desempenho físico sob influência da assimetria do córtex frontal.

Casuística e Método

Trinta indivíduos saudáveis (24,4 ± 4,90 anos, 70,7 ± 13,5 kg e 1,7 ± 0,09 m) participaram de seis visitas ao laboratório: três de familiarização e três experimentais. As visitas iniciais serviram para familiarizar os participantes aos procedimentos e realizar medições de base (sem intervenção). Nas visitas experimentais, os participantes realizaram o teste de Contração Voluntária Máxima (CVM) e o teste de Tempo Limite em flexão plantar sentado (Tlim) com registro de eletroencefalografia (EEG), antes e depois da ingestão de placebo percebido como cafeína ou placebo, ou ingestão de cafeína. A assimetria de ativação do córtex frontal foi assumida como a diferença logarítmica da potência espectral da banda alfa (8-12Hz) entre o lado direito e o esquerdo do córtex frontal, medido via EEG nas posições F3 e F4. A força muscular, expressa em quilograma-força (Kgf), foi com célula de carga a 2 kHz de frequência de amostragem. O Tlim foi realizado com uma contração isométrica a 80% da força máxima da CVM no mesmo exercício. Utilizou-se modelo misto para comparar as condições experimentais entre os grupos de assimetria direita e esquerda, considerando como significante os resultados de p < 0,05.

Resultados

Análises mostraram que a assimetria frontal influenciou a força máxima (CVM). O grupo com predominância de assimetria esquerda (F = 4,58; p = 0,01) apresentou maiores valores de CVM após ingestão de cafeína (63,0 ± 19,5 Kgf) em comparação ao placebo percebido como placebo (55,3 ± 19,4 Kgf) mas não ao placebo percebido como cafeína (60,6 ± 14,3 Kgf). Além disso, foram encontradas diferenças entre o placebo percebido como cafeína e placebo neste grupo (p = 0,04). No grupo de assimetria direita, não houve efeito significante entre as condições (F = 0,587; p = 0,563). Para o desempenho no teste do Tlim, não houve diferença significativa entre as condições em nenhum dos grupos (p > 0,05).

Discussão

Tem sido sugerido que a assimetria cortical frontal pode influenciar a regulação emocional e a motivação dos indivíduos, com o hemisfério esquerdo geralmente associado a respostas mais positivas. Esta sugestão pode explicar o maior efeito da cafeína no grupo com predominância esquerda. Igualmente, a expectativa de ingestão de cafeína (placebo percebido como cafeína) também parece sofrer influência do padrão de assimetria esquerda, sugerindo maior sensibilidade às expectativas de desempenho neste grupo.

Conclusão

Nossos resultados evidenciam que o padrão de assimetria do córtex frontal influencia o desempenho em força máxima após os participantes acreditarem nos efeitos ergogênicos da cafeína em comparação à crença em estar ingerindo placebo, com o grupo de assimetria esquerda mostrando maior sensibilidade em relação ao grupo de assimetria direita. Estes resultados sugerem que a expectativa e/ou farmacologia da cafeína é potencializada em indivíduos de assimetria esquerda.

Área

Medicina do Esporte

Instituições

Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo - Brasil

Autores

Julio Cesar Silva Cesario, Cayque Brietzke, Giovanna Marcucci, Douglas Silva Alves, Flávio Oiveira Pires