Dados do Trabalho
Título
Prescrição de exercício físico em um paciente com anemia falciforme
Introdução e Objetivo
A Anemia Falciforme (AF) é uma doença hereditária caracterizada pela mutação na subunidade beta do gene produtor da hemoglobina (HBB). O resultado é a formação de uma hemoglobina diferente, a hemoglobina S (HbS), a qual sofre polimerização em situações de acidose, desidratação e baixa oxigenação. À medida que tem a polimerização, modifica-se conformação da hemácia e ela torna-se mais rígida e em forma de foice, ocasionando diversas complicações, dentre elas, a crise vaso-oclusiva.
A atividade física pode ser um gatilho para pacientes com AF e por muitos anos a recomendação era de que seus portadores fossem pouco ativos. Os próprios pacientes já o costumam ser, devido a intolerância ao exercício e à dores crônicas desencadeados pela doença de base. Ou seja, há duas barreiras à prática esportiva para esses pacientes: as complicações da AF e a comunidade médica que contraindica ou deixa de indicá-la. Entretanto, novas evidências científicas sugerem que a prática de exercício físico abaixo ou próximo do limiar anaeróbico, não só é seguro, como também benéfico para esses pacientes.
O objetivo deste trabalho é demonstrar a partir de um relato de caso, como a prescrição de exercício físico para um paciente com AF pode diminuir a ocorrência de crises vaso-oclusivas desencadeadas pela prática esportiva.
Casuística e Método
Relato de caso
Resultados
NLBC, paciente do sexo masculino, de quinze anos, com diagnóstico de anemia falciforme foi encaminhado ao ambulatório de Medicina Esportiva para orientação quanto à prática de atividade física. No mesmo ano havia sofrido duas crises vaso-oclusivas que resultaram em internação, ambas desencadeadas pela prática de natação. Além de nadar, o paciente realiza treino de força, com baixas cargas, na academia, quatro vezes na semana. Refere nunca ter tido complicações graves decorrentes da musculação. Na primeira consulta, o paciente foi orientado a utilizar um método de monitorização de frequência cardíaca, a se hidratar adequadamente e a usar a escala de percepção ao esforço durante suas práticas esportivas.
Na consulta de retorno, o paciente conseguiu realizar as aulas de natação, além de manter o treino de força sem novas crises vaso-oclusivas.
Discussão
Tratando-se de um paciente com uma doença crônica que pode ter complicações com o exercício físico, é de suma importância definir faixas de treinamento seguras. A maior parte dos ensaios clínicos em pacientes com AF tiveram como intervenção o exercício físico aeróbico, com o estabelecimento do limiar anaeróbico por ergoespirometria e a prescrição do exercício conforme a frequência cardíaca atingida nesse limiar. Não há nenhum ensaio clínico com treino de força ou natação nesse grupo, sendo necessário extrapolar esses conceitos para a realidade do paciente, que nesse caso foi estabelecendo um limite de porcentagem de carga máxima na musculação e orientando tiros de baixa intensidade na natação. O intervalo entre os exercícios foi estabelecido, sem um tempo fixo, mas sim considerando a própria percepção de esforço do paciente ou sua frequência cardíaca. No caso acima, essas orientações foram suficientes para que não houvesse mais crises vaso-oclusivas durante o período de acompanhamento.
Conclusão
A AF é uma doença crônica hereditária, cujos pacientes têm intolerância ao exercício e dificuldade de realizá-lo. Os profissionais de saúde ainda não têm facilidade em orientá-los de forma segura, entretanto, já existem evidências de que eles podem realizar o exercício físico leve e algumas orientações simples como a utilização da percepção de esforço e da monitorização da frequência cardíaca podem ser passos iniciais para a prática esportiva desses pacientes.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Grupo de Medicina Esportiva do Hospital da Santa Casa de São Paulo - São Paulo - Brasil
Autores
Flora Chaves Mari, Victor Clauss Maróstica, Renata Silva Alves da Rocha, Jan Willem Cerf Sprey, Pedro Baches Jorge