Dados do Trabalho

Título

Taquicardia Ventricular Induzida pelo Esforço com Coração Estruturalmente Normal: Relato de Caso.

Introdução e Objetivo

A morte súbita no exercício e no esporte de origem cardíaca tem como via final, em grande parte dos casos, uma arritmia fatal como a taquicardia ventricular (TV) e a fibrilação ventricular (FV). Cardiopatias subjacentes podem predispor o aparecimento dessas arritmias que também, porém, podem ser encontradas em corações sem alteração estrutural aparente. O objetivo deste trabalho é descrever um caso de TV sintomática induzida pelo esforço, identificada através de teste ergométrico e o manejo clínico realizado.

Casuística e Método

Trata-se de relato de caso de paciente feminina, 42 anos, praticante de treino funcional, encaminhada para teste ergométrico por quadro de lipotimia recorrente durante os treinos. Relata que há cerca de 6 meses, em intensidades moderadas a intensas, pontuando 15 na escala subjetiva de percepção de esforço de Borg (6 a 20), apresenta tonturas, fraqueza, escurecimento visual, diaforese e palpitações, com recuperação espontânea após deitar e elevar os membros inferiores. Praticava vôlei na adolescência, sem sintomas. Antecedente de síndrome do pânico no passado e uma gestação normal. História familiar de doença arterial coronariana (pai).

Resultados

Realizado teste ergométrico com protocolo de Ellestad. No 6º minuto, escala de Borg 13 a 15, apresentou infradesnivelamento do segmento ST convexo de 2 mm seguido de TV monomórfica sustentada, com 240 bpm, associada à tontura, escurecimento visual, sudorese fria. O teste foi interrompido imediatamente e houve recuperação espontânea dentro do 1º minuto pós-esforço. Paciente seguiu investigação com ecocardiograma, ecodoppler de carótidas, holter de 24 horas e dosagem de provas inflamatórias (VHS, PCR) e de lesão celular (troponina), todos normais. Em seguida encaminhada para RNM do miocárdio, a qual não evidenciou alterações morfológicas, funcionais ou de realce tardio. Angiotomografia de coronárias sem lesões ateroscleróticas ou coronárias anômalas. Após discussão com equipe da arritmia iniciado bisoprolol na dose de 5 mg 1x por dia e repetido teste ergométrico, o qual não evidenciou nova arritmia em cargas moderadas a intensas. Paciente então foi liberada para a prática de exercícios moderados, com controle de intensidade pela FC e escala de Borg.

Discussão

As arritmias ventriculares são igualmente comuns em atletas e não atletas, sendo 5 a 10 vezes menos frequentes em mulheres atletas. Não há uma correlação clara entre a modalidade do exercício e as arritmias. As Taquicardias Ventriculares (TVs) e Contrações Ventriculares Prematuras (CVPs) podem causar sintomas como palpitações, lipotimia e dor torácica. As CVPs muitas vezes são assintomáticas, aparecendo apenas em exames de rotina e as TVs podem se apresentar de forma grave como perda transitória da consciência. TVs são geralmente relacionadas à doença estrutural cardíaca subjacente, enquanto as CVPs benignas ocorrem na ausência de doenças cardíacas estruturais ou eletrofisiológicas de alto risco. Em contraste, arritmias de alto risco, como TV sustentada e CVPs complexas se apresentam com características clínicas mais sugestivas de malignidade, como a não supressão de CVPs com exercício ou sua presença durante a recuperação do teste de esforço, frequentemente associadas a doenças estruturais. O teste de esforço é útil para reproduzir sintomas e avaliar arritmias. Portanto, é prudente associar a avaliação das arritmias a outros marcadores de risco, como história familiar, anormalidades em ECG e ecocardiograma, já que TVs podem ser um grande indicador de doença cardíaca estrutural e outras miocardiopatias.

Conclusão

O presente trabalho ressalta a importância do teste de esforço na investigação de sintomas relacionados aos esforços e o reconhecimento e manejo de arritmias com coração estruturalmente normal.