Dados do Trabalho


Título

POSSÍVEIS VANTAGENS ANATOMO-FUNCIONAIS EM INDIVÍDUOS TRANSEXUAIS APÓS TERAPIA HORMONAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Introdução e Objetivo

Diversos fatores influenciam no desempenho em esportes competitivos: diferenças biológicas, hormonais, psicológicas e sociais. O papel central da testosterona em um indivíduo durante, toda sua puberdade, a níveis fisiológicos tenderia a proporcionar um desenvolvimento musculoesquelético com vantagens ímpares, mesmo após uma terapia hormonal (TH). Limites e medidas de testosterona são eventualmente utilizadas como marcador no contexto do esporte para igualar e prever vantagens atléticas relacionadas ao sexo e critérios de inclusão esportiva. O presente estudo busca expor vantagens anatômicas e funcionais de indivíduos transgêneros submetidos a uma TH.

Casuística e Método

Trata-se de uma revisão integrativa de artigos extraídos das bases de dados MedLine e LILACS (via BVS), SciElo e PubMed através dos descritores padronizados “Desempenho atlético” e “Esportes” conectados pelo operador booleano "AND", e unidos pelo operador booleano "OR" ao descritor "Pessoas transgênero" nos idiomas inglês e português. Foram extraídos 471 artigos. Como inclusão, selecionou-se artigos de revisão sistemática e metanálises produzidos de 2019 a 2024. Foram excluídos relatos de caso, por não se adequarem ao objetivo, e ensaios clínicos, por falta de trabalhos existentes. Dos inclusos, 6 foram considerados pertinentes ao tópico em questão. Ademais, a partir desses, foram selecionados outros artigos para acrescentar conceitos relativos ao tema.

Resultados

A mudança de gênero influencia especialmente parâmetros da força muscular, hematócrito e hemoglobina. Indivíduos que praticam esportes nas primeiras décadas de vida possuem menor risco por doenças de deterioração ósseas: osteoporose, osteoartrite e fraturas. Atletas das modalidades ginástica, voleibol, judô, atletismo, entre outros possuem maior densidade óssea corporal total em comparação com a natação. Tal efeito osteogênico do esporte em comparação às diversas práticas esportivas sugere que quanto a maior carga de impacto do esporte, mais osteogênico ele é. Sobre a TH, viu-se efeitos relativos ao aumento força muscular em homens transexuais. Já em mulheres transexuais, resultados foram controversos. Alguns estudos evidenciaram diminuição da força muscular, enquanto outros não revelaram esse efeito entre medidas pós e pré-tratamento. Diminuição da hemoglobina em mulheres trans após a TH foram vistos. Todos os estudos mostraram aumento das medidas de força muscular em homens trans.

Discussão

A regulamentação da participação de pessoas trans no esporte é um debate em andamento, especialmente sobre possíveis vantagens anátomo-morfofuncionais. Principais objetivos da terapia hormonal em transexuais são de diminuir níveis dos hormônios sexuais endógenos, minimizando características sexuais do nascimento e estimular as características do sexo de identidade. Não há consenso das organizações esportivas sobre a capacidade que a terapia hormonal conseguiria equilibrar possíveis vantagens adquiridas por uma maturação sexual em um outro sexo biológico. O papel da testosterona no tecido muscular aumentando a síntese proteica é amplamente discutido, e níveis altos na puberdade repercutiram no desenvolvimento musculoesquelético do indivíduo adulto. Vantagens relativas à força estariam relacionadas ao desenvolvimento com níveis de testosterona compatíveis ao do sexo biológico masculino e parecem ser manter mesmo após a TH.

Conclusão

Os principais parâmetros alterados após a TH são força muscular com aumento dos níveis de força absoluta e resposta metabólica ao esforço, embora mantendo uma relativa estrutura musculoesquelética constituída na puberdade. Contudo, há uma escassez de estudos para elucidar questões como o desenvolvimento da puberdade com níveis de testosterona do sexo biológico masculino e vantagens anatômicas no indivíduo adulto pós TH. Tais estudos são necessários para verificar se há vantagens anatômicas na população trans sobre a população cis em modalidades esportivas.

Área

Medicina do Esporte

Instituições

Universidade de uberaba - Minas Gerais - Brasil

Autores

Álvaro Ananias Couto Campos, Vitor Pegorer Bilharinho, Heitor Silva Fernandes, Isabel Cristina de Freitas