Dados do Trabalho


Título

Efeitos ergogênicos dos analgésicos no desempenho físico: Uma revisão sistemática e meta-análise em condições sem dor

Introdução e Objetivo

Há uma crença entre entusiastas do esporte que o uso de analgésicos antes ou durante o exercício físico pode melhorar o desempenho, mesmo na ausência de dor muscular. Essa crença decorre da ideia de que a dor induzida pelo próprio exercício pode limitar a capacidade de esforço físico. Embora o principal objetivo dos analgésicos em contextos esportivos seja tratar lesões, estudos têm observado o seu uso como um recurso ergogênico em situações sem dor muscular prévia ao exercício. No entanto, as evidências sobre os efeitos benéficos dos analgésicos no desempenho físico são controversas, pois há resultados variados do efeito do paracetamol, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e tramadol sobre o desempenho.

Casuística e Método

Realizamos uma revisão sistemática com meta-análise (SRMA) seguindo os critérios do manual Cochrane e da declaração PRISMA, tendo como critérios PICO: (P) Participantes foram indivíduos saudáveis sem lesão muscular; (I) Investigamos os efeitos dos AINEs, paracetamol, aspirina e tramadol no desempenho físico; (C) comparado ao placebo. (O) Os desfechos foram desempenho físico (primário) e sensação de dor (secundário); (s) em ensaios clínicos randomizados cruzados. Foram pesquisadas bases de dados de literatura revisada por pares como Pubmed, SPORTDiscus, EBSCO, Embase, LILACS, e ClinicalTrials.gov, e literatura cinza, até agosto de 2024 (PROSPERO). O risco de viés foi avaliado com ferramenta RoB 2.0, enquanto a qualidade das evidências foi avaliada com GRADEpro GDT software (Schünemann et al., 2019). O tamanho dos efeitos agrupados e de subgrupos foi calculado com a função “metagen” do R-studio, a partir das diferenças médias padronizadas (SMD) e intervalo de confiança de 95% (IC 95%) em modelo de variância genérica inversa, após a correção g de Hedges dos resultados de desempenho sensação de dor.

Resultados

Foram incluídos 20 estudos, abrangendo 309 participantes e diversas modalidades de exercício. A maioria dos estudos, em desenho randomizado cruzado, investigou os efeitos de aspirina, ibuprofeno, paracetamol e tramadol sobre o desempenho avaliado como endurance, força e sprint. A meta-análise mostrou um efeito ergogênico significante e muito pequeno, dos analgésicos sobre o desempenho (SMD = 0,13, IC95% 0,03-0,24, p = 0,01). Entretanto, este efeito significante deveu-se a um único estudo que reportou valores de tamanho de efeito incomumente elevado, o qual estava influenciando os resultados (Z = 1,90, SMD = 0,08, IC95% -0,00 a 0,17; P = 0,06). Análise de subgrupos revelou que nem tramadol (SMD = 0,38, IC 95% [– 0,08; 0,85]; p = 0,10), nem aspirina (SMD = - 0,01, IC 95% [– 0,20; 0,19]; p = 0,95), ibuprofeno (SMD = 0,08, IC 95% [– 0,09; 0,24]; p = 0,38) ou paracetamol (SMD = 0,11, IC 95% [– 0,03; 0,24]; p = 0,12) foram eficazes para melhorar o desempenho físico. De forma semelhante, análise de subgrupos revelou não haver efeitos significantes dos analgésicos sobre o desempenho nas diferentes modalidades de exercício. Esta literatura apresentou baixa heterogeneidade (I² = 24%, τ2 = 0,01, P = 0,16) e nenhum viés de publicação avaliado pelo teste de Eggers (P = 0,14). Resultados semelhantes foram observados para a sensação de dor. Análise do risco de viés revelou baixo risco nos estudos, com exceção de algumas preocupações metodológicas no processo de randomização em alguns estudos. Nenhum estudo tem registro do protocolo experimental. Avaliação do GRADEpro indicou alto nível de certeza nas evidências disponíveis sobre os efeitos dos analgésicos no desempenho físico ou sensação de dor.

Discussão

Apesar de alguns estudos terem relatado efeitos positivos, sugerimos cautela devido à possibilidade de efeito placebo, não havendo justificativa para o uso de analgésicos no desempenho físico

Conclusão

Os resultados não revelaram impacto significativo dos analgésicos no desempenho do exercício em condições sem dor, independentemente da modalidade de exercício ou do tipo de analgésico.

Área

Medicina do Esporte

Autores

Beatriz Maranesi Freitas, Paulo Franco Alvarenga, Cayque Brietzke, Ítalo Vinicius, Gustavo Vasconcelos, Flávio Oliveira Pires