Dados do Trabalho
Título
EFEITO DO EXERCÍCIO FÍSICO SOBRE O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E PSICOSSOCIAL DE INDIVÍDUOS COM SÍNDROME DE DOWN: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Introdução e Objetivo
INTRODUÇÃO: A Síndrome de Down (SD) é uma condição genética caracterizada pela trissomia do cromossomo 21. Grande parte dos portadores desenvolvem demência e/ou doença de Alzheimer ao envelhecer, apresentando sinais precoces manifestados por meio de alterações na cognição (memória, atenção). Especula-se que o exercício físico (EF) possa ter efeito benéfico sobre esse processo.
OBJETIVO: Analisar o efeito do exercício físico sobre o desenvolvimento cognitivo e psicossocial de indivíduos com SD.
Casuística e Método
CASUÍSTICA/MÉTODO: Pesquisa nas bases de dados BVS e PUBMED: “Down syndrome” AND “physical activity” AND “cognition” e filtro “clinical trial”. Critérios de inclusão: ensaios clínicos randomizados com indivíduos portadores de SD, submetidos a treinamentos que envolvem qualquer tipo de exercício físico seguidos por análise da capacidade cognitiva. Foram encontrados 27 estudos. Foram excluídos 17 após leitura do título e resumo e 1 após leitura completa. Foram incluídos 9 estudos.
Resultados
RESULTADOS: Oito estudos sugeriram relação positiva entre o EF e cognição, por meio de programas de exercícios aeróbios e/ou de força com duração de 8-12 semanas, com frequência média de 30 a 90 min/semana, em população de 18 a 55 anos. Um estudo propôs programa com caminhadas e monitoramento das funções executivas de planejamento e atenção, obtendo melhora dessas funções em jovens. Outro estudo propôs treinamento com caminhada/corrida leve ou sequência de exercícios e treino cognitivo, observando aumento da auto eficácia e diminuição da tensão, raiva, fadiga e depressão. Outro ensaio clínico monitorou a integridade da substância branca por meio de tomografia em adultos, associando essa integridade positivamente ao EF e negativamente ao sedentarismo. Outro estudo com programa de exercícios aeróbios e de força analisou a atenção, memória e tempo de reação ao final, constatando melhora na memória. Mais um estudo longitudinal analisou adolescentes durante ciclismo juntamente com a aferição de tempo de reação, inibição e fluência na linguagem. Houve relação entre aumento de neuroplasticidade e melhor funcionamento do córtex pré-frontal e a realização do exercício proposto. Outro estudo mostrou que fatores psicossociais dos indivíduos tiveram melhora significativa após o treinamento. Por fim, foi mostrado resultado positivo sobre a relação entre o EF e a função executiva de planejamento (orientação temporal e espacial). Somente 1 dos estudos selecionados não observou diferenças no desfecho cognitivo, concluindo que mesmo com alta adesão ao treinamento por meio de jogos de videogame, 2x/semana por 12 semanas, não houve melhora da cognição.
Discussão
DISCUSSÃO: Dentre os estudos avaliados, ressalta-se a predominância de uma relação positiva entre realização de EF e desenvolvimento cognitivo, especialmente quando foi proposto um programa de treinamento. Entretanto, os estudos não tiveram como objetivo avaliar a relação específica entre demência e prática esportiva, o que dificulta o estabelecimento de uma causalidade direta e positiva entre ambos. É possível apenas realizar uma associação indireta, já que o estímulo e desenvolvimento das funções neurológicas são possíveis fatores protetores contra o desenvolvimento de patologias neurodegenerativas de forma geral. Em relação ao avanço psicossocial, pode-se observar uma tendência à relação direta e positiva. No estudo que concluiu não haver relação entre EF e melhora da cognição, os participantes tinham idade maior do que a média dos outros estudos (>35), portanto em estágio mais avançado de desenvolvimento do SNC, além de possível baixa sensibilidade dos testes aplicados.
Conclusão
CONCLUSÃO: A maior parte dos estudos mostrou efeito positivo do EF sobre a melhora da cognição e fatores psicossociais em indivíduos com SD. Entretanto, estudos comparativos de boa qualidade ainda são necessários para avaliar os efeitos a longo prazo do EF na prevenção de demências.
Área
Medicina do Esporte
Autores
Giulia Dias Ferreira