Dados do Trabalho


Título

Análise ecocardiográfica do remodelamento cardíaco em atletas de 4 modalidades olímpicas

Introdução e Objetivo

A principal característica da Síndrome do Coração de Atleta tem sido descrita como o remodelamento ventricular secundário ao treinamento físico intenso e sistemático. Este remodelamento, quando muito intenso, pode mimetizar algumas cardiopatias e dificultar o diagnóstico diferencial entre a hipertrofia ou dilatação fisiológica e patológica. Pesquisas com atletas europeus têm mostrado que aproximadamente 15% apresentam dilatação ventricular exuberante, com diâmetro diastólico ventricular (DDVE)
superior ou igual a 60 mm e 2% apresentam aumento da espessura ventricular (ESV) maior que 12 mm. Há poucos trabalhos publicados contemplando uma população de atletas brasileiros de elite.

Objetivo
Avaliar o grau de remodelamento ventricular em uma população nacional de atletas olímpicos de acordo com o sexo.

Casuística e Método

Foram submetidos ao ecodopplercardiograma transtorácico 107 atletas de alto rendimento (73 homens e 34 mulheres) de 4 modalidades olímpicas com alto componente aeróbio: basquete (n=48), boxe (n=24), ciclismo (n=17) e handebol (n=18). As variáveis morfológicas foram comparadas entre os sexos.

Resultados

Idade média dos homens de 24 anos (17-37anos) e das mulheres de 26 anos (17-33 anos). A espessura ventricular foi de 10 +- 1.4 mm no sexo masculino e 8,6 +- 1 mm no sexo feminino. A espessura ventricular maior que 12 mm foi encontrado em 8 homens (11%) e em nenhuma mulher. O DDVE médio encontrado nos homens foi de 53.7 mm (43-65 mm); nas mulheres foi de 49.5 mm (41-61 mm). DDVE maior ou igual a 60 mm foi verificado em 9 homens (12%) e em apenas 1 mulher (3%), todos sem alteração segmentar e com função ventricular sistólica e diastólica normais.

Discussão

Os resultados deste estudo evidenciam diferenças significativas no remodelamento ventricular entre atletas de diferentes sexos. A hipertrofia e dilatação fisiológica observadas nos homens destacam a necessidade de um cuidado especial no diagnóstico diferencial com miocardiopatia hipertrófica. Os dados também sugerem dimensões ventriculares menores no sexo feminino. Esses achados reforçam a importância de protocolos de avaliação específicos para cada sexo, garantindo um diagnóstico mais preciso e uma abordagem clínica adequada para todos os atletas.

Conclusão

A análise das dimensões cardíacas revelou que as mulheres têm cavidade ventricular e espessura ventricular menor que os atletas do sexo masculino. O dilema do diagnóstico diferencial entre coração de atleta e miocardiopatia hipertrófica ocorreu apenas nos homens, já que todas as mulheres tinham ESV inferior a 11mm. Portanto, mulheres que praticam estas modalidades e apresentem ESV superior
a 12 mm não devem ser consideradas como "coração de atleta" e devem ser submetidas a investigação complementar de miocardiopatia hipertrófica. A hipertrofia e dilatação fisiológica do atleta não é acompanhada de déficit na função sistólica e diastólica ventricular.

Área

Medicina do Esporte

Instituições

UNIFESP - São Paulo - Brasil

Autores

Felipe Dalmolin Winckler, Filippe Martins Miranda, Leandro Santini Echenique