Dados do Trabalho
Título
RELAÇÕES ENTRE O DESEMPENHO, ESTRATÉGIA DE RITMO E RESERVA EMOCIONAL DURANTE TESTE DE CICLISMO CONTRARRELÓGIO
Introdução e Objetivo
Estratégias para minimizar o gasto energético durante o exercício de endurance são essenciais na determinação da performance, permitindo que o atleta maximize seu desempenho sem instalação de fadiga prematura. O nível de desempenho, que pode sugerir o nível de treinamento do atleta, é um fator crucial para a eficácia destas estratégias. Atletas com diferentes desempenhos podem adotar estratégias distintas, provavelmente por experiências e nível de treinamento diferentes. Modelos teóricos de pacing sugerem que a dimensão afetivo-motivacional pode indicar o nível de reserva emocional usada na tomada de decisão durante o exercício, embora essa relação não tenha sido explorada. O objetivo do estudo foi investigar se o nível de desempenho influencia o pacing e respostas emocionais durante teste de ciclismo contrarrelógio de 20Km (CR20Km).
Casuística e Método
Ciclistas treinados (n=26) realizaram 5 minutos de aquecimento seguidos de teste CR20Km. Posteriormente, os indivíduos foram divididos em: grupo de baixo desempenho (BD); grupo de alto desempenho (AD), com base no primeiro (BD) e último (AD) tercil dos dados de tempo total do teste. O tempo para conclusão do CR20Km e a potência mecânica média (Wmean) foram usados como medida de desempenho. Foram coletadas a percepção subjetiva de esforço (RPE), afeto (Feeling Scale), motivação e ativação emocional (Felt Arousal Scale) a cada 2Km. Todos os testes foram feitos no mesmo período do dia, sob temperatura e umidade controladas. A diferença no desempenho de CR20Km entre os grupos BD e AD foi calculada pelo teste t-student. A relação entre Wmean e variáveis perceptivas foi calculada pela correlação de Spearman rank. Uma significância de 5% foi adotada nas análises, com o cálculo do tamanho de efeito (Cohen). Os valores foram reportados como média e desvio-padrão (± DP).
Resultados
O grupo AD (288,3 ± 37,0 W) apresentou maior potência média em comparação ao grupo BD (197,2 ± 14,9 W), além de um menor tempo na realização do CR20Km (31,7 ± 1,1 min e 36,6 ± 0,9 min, respectivamente). As estratégias de pacing adotadas entre os grupos diferiram, com a inclinação da curva de potência nos 2Km finais maior para AD (17,4 ± 8,6 w.km-1) do que BD (6,1 ± 7,1 w.km-1). A Wmean nos testes CR20Km não apresentou correlação com a PSE (p= 0,74; efeito pequeno) e a ativação emocional (p= 0,48; efeito moderado). O grupo BD se mostrou mais motivado (p=0,04; efeito muito grande) e com mais afeto (p=0,03; efeito muito grande) em relação ao grupo AD. Observamos uma correlação significante e inversamente proporcional entre Wmean e afeto (r= -0,39, p= 0,00) ou Wmean e motivação (r= -0,35, p= 0,00), mas não entre Wmean e ativação emocional (r= -0,06, p= 0,50).
Discussão
Apesar da RPE comparável entre grupos, o grupo AD apresentou melhor desempenho que o grupo BD, sugerindo uma menor demanda perceptiva de esforço para gerar desempenho físico. De certa forma, estes resultados explicam por que o grupo AD foi capaz de sustentar maiores intensidades durante todo o exercício, especialmente no sprint no final da tarefa (pacing em forma de “J” invertido). Apesar do grupo BD ter mostrado maiores níveis de motivação e afeto, apresentou menores níveis de intensidade do exercício, indicando um menor uso das reservas emocionais para sustentar as sensações desconfortáveis do exercício.
Conclusão
Os resultados do presente estudo são inéditos em evidenciar que ciclistas com maiores níveis de desempenho completam um CR20km em menor tempo e níveis de RPE comparáveis. Ademais, estes indivíduos apresentam menores níveis de motivação e afeto ao longo do CR20km, sugerindo um maior uso das reservas emocionais durante o exercício.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo - São Paulo - Brasil, Universidade Estácio de Sá - São Paulo - Brasil
Autores
Giovanna Marcucci da Silva, Paulo Estevão Franco Alvarenga, Julio Cesar Silva Cesario, Flávio de Oliveira Pires