Dados do Trabalho


Título

Efeitos moleculares do exercício resistido no tratamento do câncer

Introdução e Objetivo

O aumento anual de casos de câncer evidencia o seu impacto global e a necessidade urgente de métodos eficazes para a prevenção e tratamento. A incorporação do exercício no tratamento do câncer é apoiada por um corpo crescente de evidências que demonstram as inúmeras vantagens da atividade física para pacientes oncológicos, sendo principalmente descritos com o exercício aeróbico. Esse trabalho explora os mecanismos do exercício resistido no tratamento do câncer por meio de uma revisão narrativa.

Casuística e Método

Foi realizada uma busca nas bases de dados PubMed e Google Scholar utilizando as palavras-chave “Exercise”, “cancer”, “resistance”, “training” e “neoplasm”. Foram incluídos estudos em inglês que investigam os mecanismos do exercício resistido durante o tratamento do câncer, tanto em humanos quanto em modelos animais e in vitro.

Resultados

As miocinas, citocinas liberadas durante as contrações musculares, desempenham um papel crucial no combate ao câncer. A irisina, por exemplo, cuja concentração aumenta após o exercício resistido, mostrou in vitro efeitos inibitórios no crescimento tumoral. Esses efeitos ocorrem por meio da autofagia mediada pela via AMPK-ULK1 e na migração e invasão de células cancerosas, inibindo a transição mesenquimal-epitelial através do bloqueio da via PI3K/AKT, que é fundamental no processo de metástase.

Outra miocina relevante é a decorina, que inibe a atrofia muscular mediada pela miostatina, ajudando a reduzir a caquexia associada ao câncer. Além disso, tem efeitos in vitro diretos sobre células cancerígenas, promovendo a apoptose via caspases e inibindo a proliferação celular por meio do aumento das proteínas reguladoras do ciclo celular, como p21 e p53. Diversas miocinas, como IL-6, IL-5, IL-7 e IL-15, também desempenham um papel importante na resposta imunológica, estimulando a proliferação e sobrevivência de linfócitos T e contribuindo para a ativação das células NK.

Estudos indicam que o treinamento resistido promove leucocitose, resultando em um aumento dos linfócitos T CD8+. Metabólitos liberados durante o exercício, como lactato e ácido tricarboxílico, potencializam a atividade citotóxica dessas células e dos neutrófilos. Os linfócitos T CD4+ também apresentam um aumento temporário, o que ativa sua atividade antitumoral por meio da produção de citocinas.

As células NK são responsivas ao exercício resistido, mostrando uma mobilização aguda relacionada às catecolaminas geradas pela atividade física. Estudos em animais indicam que o exercício resistido eleva a secreção de endotelina, resultando em um aumento no número de células NK circulantes e em sua atividade citotóxica antitumoral, além da expressão dos seus receptores como Klrk1 e Il2rβ.

Discussão

Após o exercício resistido, o microambiente tumoral se torna “inflamado” com um aumento de células imunes efetoras aprimoradas, resultando em maior atividade antitumoral. Portanto, os principais componentes do sistema imune influenciados, em combinação com os metabólitos produzidos pelo exercício, a ativação do sistema nervoso simpático e as miocinas, incluem os linfócitos T CD8+ e CD4+, neutrófilos e células NK.

Muitos dos estudos avaliados estudaram o papel do exercício resistido associado ao exercício aeróbico sendo confuso em alguns casos até que ponto os efeitos encontrados foram exclusivos do resistido. Ademais, numerosos efeitos foram propostos a partir de estudos in vitro e em animais, não sendo claro como isso pode repercutir clinicamente.

Conclusão

O exercício físico é uma ferramenta custo-efetiva com múltiplos benefícios à saúde. As teorias propostas até o momento mostram o papel potencial do exercício resistido como adjuvante no tratamento do câncer principalmente modulando o sistema imunológico, porém, são necessários mais estudos em humanos focados na compreensão dessa relação para conseguir desenvolver abordagens terapêuticas direcionadas que maximizem ditos benefícios.

Área

Medicina do Esporte

Instituições

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - São Paulo - Brasil, Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil

Autores

Ingrid Johana Otero Muriel, Arthur Acypreste Guimarães, Nathan Vincenzi de Sales Branco, José Renato De Oliveira Melo, Ana Clara Ramos Bicalho