Dados do Trabalho

Título

Interface Entre Saúde Óssea e REDs: Um Relato de Fratura por Estresse Completa de Colo de Fêmur e Tratamento Hormonal

Introdução e Objetivo

Fraturas por estresse são comuns em atletas, representando de 10 a 20% de todas as lesões esportivas. A Síndrome de Deficiência Energética Relativa no Esporte (REDs) é uma condição que afeta atletas, levando a disfunções multissistêmicas, incluindo saúde óssea comprometida. A identificação precoce de REDs e a intervenção adequada são fundamentais para prevenir complicações graves, como as fraturas de estresse de alto risco. Este relato visa apresentar o caso de uma paciente jovem com fratura completa de colo de fêmur em trauma de baixa energia, enfatizando a importância da avaliação da disponibilidade energética nesses casos.

Casuística e Método

Paciente feminina, 45 anos, deu entrada no pronto-socorro da ortopedia com queixa de dor no quadril direito e dificuldade para caminhar após uma entorse. Durante a avaliação, foi identificada uma fratura por estresse completa no colo do fêmur direito, tratada com fixação interna com placa DHS e parafuso antirrotatório. A paciente relatou uma perda significativa de peso (de 79 kg para 51 kg) após iniciar corrida de rua e dieta restritiva sem orientação profissional.

Os exames laboratoriais descartaram outras causas de fratura patológica. Mesmo a paciente apresentando um ciclo menstrual regular, sem sintomas climatéricos, o único fator de risco identificado foi a baixa disponibilidade energética.

Na consulta de seguimento na Medicina Esportiva, foi solicitado exame de densitometria óssea devido ao diagnóstico de fratura de alto risco. O exame revelou um Z-score de -1,5 na coluna lombar e -0,3 no fêmur esquerdo, indicando leve redução da massa óssea, considerando que a paciente realizava exercício de força regularmente.

O cálculo da disponibilidade energética foi igual a 12 Kcal/Kg MLG, considerado baixo. Os valores da dieta prévios à lesão incluíam uma ingestão de 1100 Kcal/dia.

Resultados

Foi utilizada a ferramenta REDs-CAT2 (Relative Energy Deficiency in Sport Clinical Assessment Tool) para classificar e monitorar o estado clínico da paciente. A classificação indicou um risco moderado (“yellow light”) devido à presença de dois fatores primários: fratura por estresse de alto risco e z-score < -1,0.

Como parte do tratamento, foi iniciada a reposição hormonal com estrogênio transdérmico e contraposição com progesterona oral, visando melhorar a saúde óssea e hormonal da paciente. A suplementação de cálcio e vitamina D também foi introduzida, juntamente com ajustes dietéticos para aumentar o aporte calórico e a disponibilidade energética.

Após seis meses de acompanhamento, a paciente retornou à corrida progressivamente, com melhora significativa dos sintomas e recuperação funcional completa.

Discussão

A fratura por estresse de alto risco, como no caso da paciente, é uma complicação grave de REDs e exige um manejo multidisciplinar para otimizar a recuperação. A baixa disponibilidade energética compromete a saúde óssea e é frequentemente subdiagnosticada em atletas, especialmente em mulheres. A reposição hormonal com estrogênio transdérmico demonstrou ser uma intervenção eficaz para restaurar a saúde óssea em pacientes com REDs, conforme o preconizado em diretrizes atuais.

O uso da ferramenta clínica REDs-CAT2 auxiliou na monitorização da evolução clínica da paciente e foi fundamental para a condução do tratamento. A abordagem nutricional, associada à terapia hormonal e à reintrodução gradual das atividades físicas, foi essencial para o sucesso do tratamento.

Conclusão

Este caso reforça a importância de identificar e tratar precocemente REDs em atletas com fraturas por estresse, especialmente em casos de alto risco. O manejo multidisciplinar, envolvendo terapia nutricional e hormonal, mostrou-se eficaz para a recuperação óssea e funcional da paciente, prevenindo complicações futuras e garantindo o retorno seguro ao esporte.