Dados do Trabalho
Título
Uso de relógios digitais (smartwatch) como auxílio de detecção de arritmias: um relato de caso
Introdução e Objetivo
Os smartwatches são dispositivos eletrônicos vestíveis que surgiram com o avanço da tecnologia e estão sendo cada vez mais utilizados pela população. Diversos smartwatches tem capacidade de detectar uma arritmia cardíaca, que envolve um conjunto de condições relacionadas com batimentos cardíacos acelerados, lentos ou irregulares. O tipo mais comum de arritmia é a fibrilação atrial (FA), que tem sua prevalência aumentada em indivíduos com idade avançada e eleva o risco de um acidente vascular cerebral. A FA é geralmente assintomática, dificultando a sua detecção por meio de métodos convencionais. Objetivo: Relatar o caso de um homem ex-obeso e usuário de esteroides anabolizantes, que detectou uma arritmia cardíaca por meio de um smartwatch.
Casuística e Método
Paciente masculino, 32 anos, ex-obeso e com diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), busca atendimento médico em outubro de 2023 para acompanhamento e contenção de danos por fazer uso de testosterona de origem duvidosa, sem indicação médica. Faz uso de Lisdexanfetamina, com prescrição médica. Na consulta, detectou-se níveis de testosterona supra fisiológicos e o paciente foi convencido a utilizar medicamentos prescritos e manter em níveis fisiológicos, após se mostrar irredutível a suspensão do uso dos hormônios. Após um mês, o paciente contactou o médico por queixas de taquicardia, ao qual foi sugerido realizar um eletrocardiograma (ECG) pelo aplicativo do smartwatch do paciente e envio do resultado para o médico. O resultado do ECG do smartwatch evidenciou alteração sugestiva de FA.
Resultados
LSN, 32 anos, sexo masculino, analista da sistema, previamente hígido, praticante de musculação, TDAH diagnosticado na infância, em uso de Vanvanse 70mg/dia, Sustanon 250mL semanal, obtido de forma ilegal, e Oxandrolona 36mg dia. Paciente procurou atendimento médico para avaliação da saúde, referindo não querer suspender as medicações em uso. Foi explicado ao paciente os riscos associados ao uso de hormônios de origem duvidosa, com troca para testosterona de farmácia (Durateston 250 mg). Após 1 mês, o paciente relatou taquicardia e, ao realizar um eletrocardiograma pelo smartwatch (Apple Watch), foi sugerida fibrilação atrial (FA). Ele foi orientado a procurar a emergência, onde a FA foi confirmada e revertida com metoprolol e propafenona. O paciente recebeu alta com prescrição de Lixiana 60 mg/dia e metoprolol 50 mg/dia. O resultado do ecocardiograma strain foi obtido, mostrando remodelamento concêntrico do ventrículo esquerdo com strain global longitudinal reduzido (-15,7%). Diante do resultado dos exames de Angio Tomografia e Ressonância magnética do coração, descarta-se doença coronariana e a causa base de FA não foi identificada, ficando como possível hipótese FA secundária por venvanse.
Discussão
A fibrilação atrial (FA) é o tipo de arritmia mais tratado na prática clínica, geralmente associada a um ritmo ventricular irregular e ausência de ondas P distintas e está relacionada a um maior risco de morte, parada cardíaca, hospitalização e eventos trombolíticos. A triagem cardíaca por meio do eletrocardiograma (ECG) tem como objetivo reduzir desfechos cardiovasculares indesejáveis e óbitos, o monitoramento contínuo de ECG em tempo real usando smartwatches parece uma opção atraente ao fornecer um método não invasivo para detecção de FA.
Conclusão
O uso de smartwatch emerge como uma nova abordagem para rastreio de irregularidades cardíacas, sendo crucial para uma abordagem médica precoce. Esse método oferece um monitoramento não invasivo e contínuo, o que pode facilitar a identificação precoce de condições graves, muitas vezes assintomáticas, e promover uma intervenção rápida. No entanto, é fundamental que esses avanços tecnológicos sejam utilizados em conjunto com o acompanhamento médico regular, garantindo uma abordagem personalizada, avaliação precisa e promover tratamento adequado.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Universidade de Fortaleza - UNIFOR - Ceará - Brasil
Autores
Bruno Cavalcante Linhares, Gabriel Brito Ferreira de Lacerda, João Vitor Feitosa Bezerra, Letícia Teles Moreira Lopes, Pedro Almeida Cassiano, Rodrigo Ponte Viana