Dados do Trabalho
Título
Os efeitos da ioimbina na composição corporal: uma revisão narrativa
Introdução e Objetivo
A ioimbina é um alcaloide indólico extraído da casca da Pausinystalia yohimbe e da raiz da Rauwolfia serpentina, estudada por seus efeitos fisiológicos no organismo humano. Originalmente utilizada no tratamento da disfunção erétil, seu uso tem se expandido para a medicina esportiva na atualidade, sendo frequentemente associada a suplementos alimentares voltados para a redução de gordura corporal. O mecanismo de ação da ioimbina baseia-se no antagonismo dos receptores alfa-2 adrenérgicos, o que facilitaria a lipólise e a mobilização de ácidos graxos. O presente estudo tem como objetivo revisar as evidências científicas sobre a relação entre o uso da ioimbina e a lipólise, bem como discutir os potenciais riscos associados a essa substância.
Casuística e Método
Esta revisão narrativa foi realizada com base em artigos obtidos nas bases de dados PubMed e Scopus, sem restrições de data de publicação. Os termos de pesquisa utilizados foram “yohimbine” ,“fat”, “body weight” e “body composition". Os artigos incluídos abordaram diretamente a relação entre o uso de ioimbina e a redução de gordura.
Resultados
As alterações fisiológicas proporcionadas pela ioimbina advêm, principalmente, da sua capacidade de antagonizar receptores adrenérgicos alfa-2. Nesse sentido, estudos evidenciaram que a administração dessa substância, por meio das vias oral e intravenosa, contribui com a elevação dos níveis de norepinefrina no sangue, favorecendo o incremento do tônus simpático. Além disso, ensaios randomizados e duplo cegos verificaram que a administração da ioimbina associa-se à mobilização de lipídeos, evidenciada por aumento de ácidos graxos livres no sangue, contribuindo para a redução da gordura corporal. A explicação para esse efeito lipolítico seria o agonismo de receptores adrenérgicos do tipo beta, em consequência do incremento de norepinefrina. Em contrapartida, estudos semelhantemente estruturados não foram capazes de verificar alterações relacionadas com ácidos graxos livres e composição corporal. Do ponto de vista esportivo, poucos estudos acerca do uso de ioimbina em atletas foram executados. Um ensaio randomizado e controlado por placebo analisou o uso de ioimbina em 20 jogadores profissionais de futebol. Ao final, foi evidenciada a redução de percentual de gordura corporal nos atletas que utilizaram a suplementação de ioimbina, sendo destacada a significância estatística para esse parâmetro.
Discussão
A literatura sobre o uso de ioimbina na redução de gordura ainda é limitada, especialmente em estudos realizados com atletas. As principais limitações dos estudos existentes incluem o pequeno número de participantes, a curta duração dos ensaios e a variação no perfil dos grupos estudados. Além disso, muitos estudos incluíram apenas mulheres e associaram o uso de ioimbina a dietas com restrição calórica, o que pode influenciar nos resultados. Outro ponto relevante são os efeitos adversos, como aumento da frequência cardíaca, hipertensão, agitação e ansiedade, que foram relatados em diversos estudos. Casos graves, incluindo fibrilação atrial, convulsões e até mortes por overdose, também foram registrados. Mesmo assim, o uso da ioimbina segue amplamente promovido por empresas do setor esportivo.
Conclusão
Apesar de alguns estudos indicarem uma possível relação entre o uso de ioimbina e a melhora da composição corporal, as evidências ainda são inconclusivas. Dada a escassez de estudos robustos e a variação nos resultados encontrados, torna-se essencial a realização de novas pesquisas para avaliar tanto os benefícios quanto os potenciais riscos da ioimbina, especialmente no contexto esportivo.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo - Brasil, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Minas Gerais - Brasil
Autores
Thomas Fujihara Ide , Roberto Gonçalves Almeida da Encarnação, Lucas Paolucci de Paiva Silvino, Gabriel Moraes de Oliveira