Dados do Trabalho
Título
Síndrome do Supertreinamento e as alterações metabólicas.
Introdução e Objetivo
A Síndrome do Supertreinamento (do inglês Overtraining Syndrome – OTS) ou do excesso de treinamento é caracterizada pela redução do desempenho esportivo a longo prazo, relacionada ao desequilíbrio persistente entre carga e recuperação, associadas ou não diretamente ao treinamento. O excesso de treinamento, somado à recuperação e nutrição insuficientes podem favorecer o aumento da síntese e liberação de citocinas pró-inflamatórias como a proteína C reativa (PCR), além de alterações no humor, queda de performance, fadiga crônica e incidência de infecções de via aéreas superiores. No entanto, a falta de testes reconhecidos como padrão-ouro, dificulta a identificação de atletas em OTS e permanece um diagnóstico por exclusão. Por isso, o presente estudo de revisão compilou as atuais evidências científicas sobre os biomarcadores clínicos associados à OTS e suas repercussões metabólicas.
Casuística e Método
Foi realizada pesquisa bibliográfica entre 2020-2024 incluindo estudos observacionais (transversais, de coorte ou caso-controle) e estudos de intervenção, nas bases de dados como MEDLINE, Scopus e Pubmed, com os descritores em inglês ("Biomarkers" OR "Inflammation Mediators") AND ("Overtraining Syndrome"). Foram excluídos estudos com voluntários cardiopatas ou em uso de algum suplemento e/ou medicação.
Resultados
Os biomarcadores mais comuns citados na literatura são a troponina cardíaca, o peptídeo natriurético tipo B (PNB), a creatina quinase (CK-MB), a PCR, alguns hormônios como cortisol e a hipoxantina (Hx). Além disso, observa-se também alteração da frequência cardíaca (FC). Em estudo recente, a Hx que se refere à degradação de adenina muscular, considerada como estresse energético induzido pelo exercício, mostrou correlação positiva com sobrecarga física. Ainda, observa-se alterações metabólicas como aumento de glicerol e redução de triacilglicerois (TAG), de VLDL (very low density lipoprotein) e de apolipoproteína C3 (Apoc3) e redução da razão glutamina/glutamato. Pode haver ainda redução do sistema de defesa, evidenciado pela redução da razão neutrófilo/linfócito e aumento de interleucina 6 (IL6), fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), além de alterações da homeostase redox.
Discussão
A OTS não afeta apenas o desempenho do atleta, mas pode ser uma condição crônica, sendo que sinais de alerta podem ser identificados por meio da análise de biomarcadores. Como ainda não se tem um padrão-ouro para adotar na prática clínica, os profissionais poderão avaliar sinais, sintomas e os exames específicos para traçar condutas mais direcionadas, a fim de prevenir lesões e até́ afastamentos por longos períodos dos atletas, contribuindo com seu retorno mais rápido ao esporte. O monitoramento constante é indicado, visto que em alguns casos, os danos podem ser prevenidos
Conclusão
Os estudos sobre OTS são limitados em mulheres atletas, visto que o ciclo menstrual pode ser mais uma variável relevante a ser considerada. A maioria das publicações se refere aos esportes de resistência aeróbica. No que concerne aos principais achados, a utilização dos biomarcadores pode auxiliar na identificação e correção cardiometabólica de forma mais precoce, visando menor sobrecarga, ajuste de treinamento, recuperação e bem-estar do atleta.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Universidade Nove de Julho - SBC - São Paulo - Brasil
Autores
Gustavo Costa Almeida, Tatiane Mieko Fujii, Milena Almeida Testi, Aline Villa Bacurau, Daniel Lopez Ledo