Dados do Trabalho

Título

Impacto do exercício físico na microbiota intestinal

Introdução e Objetivo

Os micro-organismos do trato gastrointestinal podem influenciar na absorção de nutrientes, na síntese de vitaminas, na biodisponibilidade energética, na modulação da resposta inflamatória e imunológica do hospedeiro. Fatores como padrão de dieta, tipo de parto, uso de medicamentos, co-morbidades associadas, além da idade e da genética podem impactar o equilíbrio da microbiota
intestinal, no entanto apenas nos últimos anos, as pesquisas científicas têm observado a influência do exercício físico ao promover melhora da resposta inflamatória, melhora da motilidade intestinal e bem-estar psicológico. Por isso, o presente estudo de revisão
compilou as atuais evidências científicas sobre os impactos positivos e negativos do exercício físico na microbiota intestinal.

Casuística e Método

Foi realizada pesquisa bibliográfica entre 2018-2024 incluindo estudos observacionais (transversais, de coorte ou caso-controle) e estudos de intervenção, nas bases de dados como MEDLINE, Scopus e Pubmed, com os descritores em inglês [gut microbiota] AND [athletes] AND [dysbiose] AND [physical exercise]. Quanto aos critérios de exclusão, foram dispensados estudos apenas com pessoas
sedentárias, com co-morbidades ou em uso de suplemento ou medicação.

Resultados

O exercício físico moderado pode induzir mudanças na composição da microbiota intestinal, sobretudo na diversidade, abundância e equilíbrio entre os filos Bacteroidetes, Firmicutes, Actinobacterias e Proteobacteria. Além disso, estudos recentes mostram aumento da produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) em pessoas fisicamente ativas quando comparadas às sedentárias, mostrando a atuação na função de barreira. Em maratonistas, a abundância da microbiota foi associada à quebra mais eficiente de ácido lático, melhora da sensibilidade à insulina e homeostase de glicose. A capacidade cardiorespiratória aumentada foi relacionada ao aumento da alfa-diversidade e da presença dos gêneros como Roseburia, Lachnospiraceae, Clostridiales e Erysipelotrichaceae, os quais contribuem para aumento da produção de AGCC e, consequentemente, beneficiam metabolicamente a biossíntese de aminoácidos, de vitaminas e de lipídios. Atletas com baixo índice de massa corporal (IMC) foram associados com maior abundância da espécie de Akkermansia muciniphila, uma bactéria com função mucolítica. Por outro lado, atletas de Endurance como corredores e triatletas, apresentam maior susceptibilidade de problemas gastrointestinais, como náuseas, diarreias, flatulências e nesses indivíduos, o processo inflamatório envolvido pode aumentar as espécies como Ruminococcus gnavus, Oscillospira spp., Butyrivibrio spp., e Coprococcus spp., com redução de Turicibacter spp, mostrando que fatores estressores do exercício com sobrecarga e recuperação inadequada, bem como a alimentação pode aumentar a permeabilidade intestinal nesses indivíduos, com predominância do filo Bacteroides.

Discussão

A microbiota intestinal pode influenciar no desempenho atlético e pode impactar os resultados das competições, bem como no tempo de recuperação. Quando se trata de marcadores da saúde intestinal, ressalta-se a importância da avaliação da diversidade microbiana, equilíbrio entre os filos, capacidade de função de barreira, melhora da biodisponibilidade de nutrientes e da integridade de mucosa. O exercício moderado pode contribuir com a melhora dos marcadores de saúde, porém exercícios intensos podem ser prejudiciais para a composição da microbiota, o que pode resultar em menor eficiência de nutrição, de performance e de resposta imune, contribuindo para o aumento do estresse oxidativo.

Conclusão

Dessa forma, a fim de melhorar o desempenho, estudos recentes sugerem maior atenção na saúde intestinal para pessoas que realizam exercícios de alta intensidade, como no caso dos atletas de Endurance. Nesse sentido, a modulação intestinal se constitui como uma boa estratégia na prática clínica.