Dados do Trabalho
Título
ANÁLISE COMPARATIVA DAS RESPOSTAS METABÓLICAS E CARDIOCIRCULATÓRIAS NO REPOUSO E NO EXERCÍCIO E DA SAÚDE MENTAL EM ATLETAS APÓS A COVID-19
Introdução e Objetivo
A COVID-19 gerou riscos inerentes à prática esportiva com possíveis complicações decorrentes da infecção, devendo-se avaliar os atletas para assegurar o retorno aos treinos após a infecção. Os objetivos deste estudo foram: avaliar a capacidade aeróbia, a função cardíaca e muscular e a saúde mental em atletas pós-COVID-19 com (cPPR) e sem (sPPR) perda de performance por questionário subjetivo definido pelos pesquisadores e se havia diferença de acordo com o sexo.
Casuística e Método
Estudo de coorte prospectivo envolvendo 41 atletas divididos em 2 grupos: 17 atletas cPPR e 24 sPPR após 3 a 12 meses da COVID-19. Foram avaliadas as características gerais, os parâmetros metabólicos e cardiopulmonares durante o TECP com avaliação simultânea da oxigenação muscular periférica por espectroscopia por raios quasi-infravermelhos (NIRS) e medida do lactato e de trocas gasosas, além de biomarcadores cardíacos e musculares (CPK, Tn-T e NTproBNP), handgrip, ecocardiograma e testes psicométricos (RESTQSport, IES-R e HADS). Foi considerada diferença estatisticamente significante p<0,05.
Resultados
56% eram homens com média de idade 35±11anos. Subdividindo-se os grupos em cPPR e sPPR e avaliando-se pelo sexo, as mulheres cPPR apresentaram menor V̇O2pico (118±23 vs 143±21%prev, p=0,037) e ΔV̇O2/ΔWR (9±2 vs 11±2 ml/min/W, p=0,048) e maior V̇E/V̇CO2LL [32 (29-33) vs 27 (26-31), p = 0,043] em relação às sPPR. Além disso, maior inclinação da deoxihemoglobina em relação à carga (1,2 (0,8-1,3) vs 0,6 (0,6-0,7), p=0,022) na extração periférica de O2 pelo NIRS. Não houve diferença em relação aos testes psicométricos. Entre os homens, aqueles cPPR, eram mais velhos (43±7 versus 29±6anos, p<0,001) em relação aos cPPR e não houve diferença nas respostas do TECP. Aqueles cPPR, apresentaram menor força de preensão palmar direita (39 ± 9 vs 49 ± 9KgF, p=0,045) e no RESTQ-76Sport, menor valor na análise de recuperação geral, domínio “relaxamento somático”, e à recuperação no esporte, domínio “estar em forma”, comparando-se com os homens sPPR. Não houve diferença na medida de lactato (repouso e exercício), nos biomarcadores e na função cardíaca pelo ECO entre os grupos.
Discussão
Entre atletas após a COVID19, a percepção subjetiva de redução no rendimento nos treinos refletiu-se de forma objetiva nas respostas ao exercício entre as mulheres e na força muscular e no comprometimento da saúde mental entre os homens. Vale ressaltar que a redução do VO2pico e do VO2-carga, alteração da extração periférica de O2 associado com o aumento da relação VE/VCO2 entre as mulheres, sugere um comprometimento da musculatura periférica com possível ativação de ergo receptores estimulando o aumento do drive ventilatório. Já entre os homens, a redução da força muscular periférica pelo HandGrip pode ter sido impactada pela idade maior, mas a percepção da redução da performance se refletiu no relaxamento e na recuperação no esporte pelos testes psicométricos. Em ambos os grupos, as alterações musculares podem estar relacionadas à atuação viral direta na musculatura periférica e/ou mesmo ao descondicionamento induzido pelo período de isolamento, não tendo sido encontrado alterações cardíacas para justificar os achados.
Conclusão
Apesar da gravidade da COVID19 na fase aguda ter sido menor entre os mais jovens e não sedentários, as sequelas associadas a COVID-19, mesmo leve, estão presentes entre os atletas cPPR, devendo-se ampliar a investigação das sequelas musculares e ajustar o treinamento nestes atletas, especialmente entre as mulheres.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Universidade Federal de São Paulo - São Paulo - Brasil
Autores
Natália Pacheco Lima Costa, Maria Beatriz Leme Monteiro, Vitor Costa Souza, Elaine Vieira Brito, Priscila Cristina de Abreu Sperandio, Eloara Vieira Machado Ferreira