Dados do Trabalho
Título
Espondilólise em atleta de futebol: Um relato de caso
Introdução e Objetivo
A espondilólise é uma lesão óssea na pars interarticularis, resultante de um estresse repetitivo. Assim, se correlaciona ao esporte, sobretudo os que exigem movimentos repetidos de hiperextensão da coluna lombar. Comum em praticantes do levantamento de peso, remo, ginástica, luta livre e é uma das principais causas de lombalgia em atletas do futebol nas categorias de base. Com isso, o presente estudo objetiva documentar um caso de espondilólise em um atleta de um time de elite do futebol, como forma de ajudar a identificação e intervenção precoce e assertiva.
Casuística e Método
Os dados foram coletados pelo prontuário do atleta, sendo considerados todos os registros desde o primeiro dia de queixas. O atleta de futebol, 14 anos, relatou início de lombalgia, tipo "fisgada", em treinamento resistido com carga, ao agachar. Após avaliação médica, o atleta foi liberado a continuar a prática esportiva. Não relatou novas queixas limitantes e continuou nas atividades. Após 15 dias, queixou-se novamente de dor lombar. Foi avaliado pela equipe médica afastado e submetido a tratamento fisioterápico, retornando às atividades em sete dias. Após o retorno, em sessão de treino com bola, apresentou dor forte, bilateral, em região lombar, com dificuldade de marcha, porém sem déficits neurológicos. Após avaliação médica, foram solicitadas Ressonância Nuclear Magnética e Tomografia Computadorizada , que evidenciaram lise óssea bilateral em L5. Foi optado pelo tratamento conservador, com fisioterapia, antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) nos primeiros dias para alívio de sintomas e restrição à prática esportiva, principalmente atividades de hiperextensão lombar ou impacto por 90 dias. Após melhora clínica, ao retornar às atividades, em sua segunda sessão de treino, apresentou sintomas similares aos relatados no início do quadro.
Resultados
Verificou-se, com a análise dos prontuários, que o atleta teve um tempo entre início de sintomas e diagnóstico de 25 dias. Ficou afastado da prática esportiva por mais de 100 dias. Apresentava TC e RNM com achados positivos para Espondilólise em L5, sem sinais de listese e sem comprometimento do canal vertebral. Apesar do tratamento realizado, houve recidiva dos sintomas e o atleta ainda está em tratamento no presente momento.
Discussão
O tratamento padrão-ouro na literatura foi realizado: afastamento da prática esportiva de pelo menos 90 dias,a utilização de AINEs em fase aguda e a fisioterapia O tempo de retorno ao esporte, maior que 100 dias, está dentro da faixa de tempo padrão encontrada na literatura mundial, sendo comum até 177 dias. A evolução do caso condiz com o alto índice de tratamentos prolongados e de recidivas em casos de espondilólise. O tempo até a solicitação dos exames de imagem para o diagnóstico, de 15 dias, foi dentro do habitual para a patologia. Dessa forma,o caso do atleta em questão nos faz relembrar a importância de alertar o paciente e a família, sobretudo, em atletas jovens, além de estabelecer um plano de cuidados com toda a equipe multidisciplinar, para uma melhor adesão terapêutica e melhores desfechos, tendo em vista o risco de evolução prolongada, recidiva e, em alguns casos, até mesmo a necessidade de tratamento cirúrgico. Outra observação é a não utilização da órtese. Embora sua eficácia seja de baixa evidência na literatura, pode ser discutida para continuação do tratamento em casos refratários ou de recidiva.
Conclusão
Tendo em vista a importante prevalência da espondilólise no futebol de base é importante sempre se atentar como diagnóstico diferencial. O tempo de recuperação do quadro pode ser longo. Assim, é importante que o departamento de saúde dos clubes estabeleçam um plano de cuidados junto a equipe multidisciplinar, atleta e família para que haja maior adesão às terapêuticas propostas.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Departamento Médico América Futebol Clube - Minas Gerais - Brasil, Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil
Autores
Pedro Henrique Rego Viana, João Carlos Pereira Salomão, Rafael Cunha Silva Araújo, Leandro Ferreira Xavier