Dados do Trabalho
Título
Fatores predisponentes às lesões de Ligamento Cruzado Anterior no esporte feminino: uma revisão integrativa
Introdução e Objetivo
À medida que a participação feminina nos esportes expande, cresce também a necessidade de aprendizados e de atualizações médicas, para garantir o cuidado adequado às atletas e para suprir as novas demandas. Nesse contexto, as lesões do Ligamento Cruzado Anterior (LCA) no esporte feminino surgem como tema importante, por se tratar de um quadro com risco relativo de 2 a 8 vezes maior nas mulheres e com uma incidência absoluta crescente, além de trazer consigo uma alta morbidade. Assim, o presente estudo busca avaliar os possíveis fatores predisponentes às lesões do LCA em atletas do esporte feminino.
Casuística e Método
Trata-se de uma revisão integrativa de artigos extraídos das plataformas PubMed, Lilacs e Scielo, a partir dos descritores padronizados (MeSH): “ACL injury”, “women athletes”, alternados pelo operador booleano AND. Após extração de 913 artigos, foram incluídos apenas revisões sistemáticas e meta-análises dos últimos 5 anos, critérios cumpridos por 27 artigos, dos quais 3 foram considerados oportunos. Além disso, a busca de artigos foi expandida também para revistas e sites conceituados na área de Medicina do Esporte, com foco na mulher atleta, com a adição de mais 8 artigos pertinentes ao estudo.
Resultados
O maior risco de lesões de LCA em atletas mulheres é atribuído a um conjunto de fatores, que, se analisados individualmente, não explicam essa predisposição. Entre esses, estão as diferenças anatômicas, embora as conclusões não sejam unânimes. No organismo feminino, a fossa intercondilar tende a ser menor, associando-se consequentemente a um LCA também menor, e potencialmente mais frágil. Além disso, a pelve tipicamente mais larga acentua o ângulo-Q (ângulo do quadríceps), favorecendo maior estresse sobre o LCA. Achados biomecânicos e neuromusculares convergem na predisposição ao maior risco, com uma ativação predominante da musculatura do quadríceps na estabilização articular do joelho, além de uma menor robustez muscular em relação aos homens, gerando uma demanda aumentada das estruturas ligamentares. Em estudos comparativos de padrões de movimento provocativos, mulheres demonstraram ângulos maiores de valgo e movimentos aumentados de abdução do joelho, com um padrão cinético mais propenso à sobrecarga do LCA. Do ponto de vista hormonal, é consenso haver associações hormonais do Ciclo Menstrual com maior frouxidão articular do joelho, mas quando avaliadas possíveis associações com o desfecho de lesões do LCA, as evidências permanecem inconclusivas.
Discussão
O substrato para o risco aumentado de lesões de LCA nas mulheres é, portanto, de ordem multifatorial. Além dos fatores biológicos, devem ser ponderados também fatores extrínsecos, como as diferenças ainda presentes na estrutura e no orçamento dos esportes femininos e masculinos, implicando um acesso desigual dos atletas aos equipamentos e aos programas de prevenção e de reabilitação de lesões. Nos artigos selecionados, as evidências mais consensuais foram as diferenças neuromusculares e biomecânicas nas mulheres, de maneira que as principais intervenções disponíveis atualmente concentram-se no controle neuromuscular, buscando aprimorar a capacidade da atleta de enfrentar os movimentos provocativos durante a prática.
Conclusão
Mesmo com uma bibliografia em franca expansão, a compreensão das possíveis associações com o risco aumentado de lesões de LCA nas mulheres ainda permanece incompleta, abrindo espaço para novos estudos. O melhor entendimento desses elementos - tanto modificáveis quanto não modificáveis - é primordial para a construção de protocolos validados de prevenção, de avaliação, de intervenção e de reabilitação, buscando identificar e capacitar as atletas com maior risco, de forma a minimizar as chances dessas lesões e os possíveis impactos na carreira das atletas.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil
Autores
Lucas Silva e Souza, Gabriel Abreu Guerra, Bruno Henrique de Oliveira Moreira, Flávia Costa Oliveira Magalhães