Dados do Trabalho
Título
Relação do polimorfismo genético dos genes ACE1 e ACTN3 com as lesões musculares em atletas da elite do futebol brasileiro
Introdução e Objetivo
A relação entre polimorfismo genético e desempenho esportivo tem ganhado relevância na área das Ciências do esporte nos últimos anos. Entretanto, o tema ainda apresenta muitas lacunas relevantes e, no cenário mundial, a maioria dos estudos giram em torno dos genes Alfa-actina-3 (ACTN3) e Enzima Conversora de Angiotensinogênio-1 (ACE1) e sua correlação com força e resistência muscular, pouco se discutindo sobre outras associações. Nesse contexto, ressalta-se que lesões em tecidos musculares são a principal causa de afastamento de atletas praticantes de futebol e, apesar disso, ainda é pouco abordada sua correlação com os polimorfismos genéticos. Portanto, este estudo tem como objetivo investigar a relação entre o ACE1 e ACTN3 com lesões de tecidos musculares, evidenciando a sua relevância para determinação da carga e volume de treinos.
Casuística e Método
O estudo utilizou como base de dados as informações coletadas por um Clube de Futebol Profissional durante a temporada de 2022 e 2023. O banco contava com os dados de 29 atletas durante as temporadas, como idade, posição em campo, classificação das lesões em topografia anatômica, mecanismo de lesão, tecido afetado e tempo de retorno ao esporte. O banco possuía também a análise do material genético dos atletas, como foco nos genes ACE1 e ACTN3. Para interpretação dos dados foi utilizado uma análise estatística de média e desvio padrão, sendo aplicada para o número de lesões, número de lesões musculares e tempo de afastamento dos atletas portadores de cada gene. Somado a isso, o teste de Fisher foi aplicado para inferir a correlação entre lesões musculares e genes.
Resultados
A correlação, entre os genes e lesões musculares, não foi estatisticamente significativa (p=0,121) no teste exato de Fisher. Constatou-se uma média 152% maior de número de lesões musculares por atleta em portadores heterozigotos (R/X) do gene ACTN3 em comparação aos homozigotos (R/R). Sobre o gene ACE 1 os homozigotos (D/D) apresentaram uma média de número de lesões musculares 96% maior em relação aos homozigotos (I/I). Sobre o tempo de afastamento observou-se que atletas ACTN3 (R/X) e ACE 1 (D/D) tiveram maior tempo de afastamento devido às lesões.
Discussão
No desenho inicial do estudo, esperava-se encontrar uma correlação íntima entre as lesões musculares e o polimorfismo do gene ACE1 na forma heterozigota (I/D) ou homozigota (D/D) e o gene ACTN3 homozigota (X/X). No pensamento conforme a plausibilidade biológica, associa-se a realização de ações de força e sprint com a maior probabilidade de lesões musculares, logo esse tipo de lesão seria mais comum em atletas portadores desse polimorfismo. Algumas hipóteses são levantadas para a não relevância estatística dessa relação (p>0.05), como a necessidade de um número maior de atletas na amostra (n>29) e também o caráter misto da prática do futebol, que conta com ações intermitentes de longa duração, intercalados por períodos de alta intensidade e recuperação de curta duração, não propiciando condição ideal para a realização dessa correlação. Talvez em esportes com demanda mais específica do componente força ou resistência muscular como ginástica artística, levantamento de peso ou natação os índices de correlação esperados no delineamento inicial do estudo sejam presentes.
Conclusão
Os resultados ressaltam a necessidade de estudos correlacionando polimorfismo genético e predisposição à lesão muscular no futebol com maior amostra de atletas, bem como a exploração mais ampla desse tópico em outros esportes, com análises específicas para cada modalidade. Mais que isso, o estudo evidenciou a necessidade de colaboração mais ampla entre os Departamentos de Saúde dos clubes de futebol para produção científica, de maneira a otimizar a performance dos atletas e o desempenho das equipes em geral.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Departamento Médico América Futebol Clube - Minas Gerais - Brasil, Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil, Faculty of Sport Sciences, University of Extremadura, 10003 Badajoz - - Spain
Autores
Rodrigo dos Santos Guimarães, João Carlos Pereira Salomão, Rafael Cunha Silva Araújo, Pedro Henrique Rego Viana, Samir Charride Vilas Boas Késsimos de Salles