Dados do Trabalho
Título
O CRESCENTE USO INDISCRIMINADO DE ANABOLIZANTES E AUMENTO DA HOSPITALIZAÇÃO POR COMPLICAÇÃO RENAL: EXEMPLO DE CASO
Introdução e Objetivo
Os esteroides anabolizantes (EAA) são amplamente utilizados para aumentar a massa e a força muscular, com um aumento alarmante na sua popularidade entre atletas recreativos e profissionais. Somente no Brasil houve aumento de 670% da venda desses produtos nos últimos 5 anos. Apesar dos benefícios estéticos, seu uso está associado a sérios riscos à saúde, incluindo hepatotoxicidade, distúrbios psiquiátricos, complicações cardiovasculares e complicações renais.
Estudos mostram que mais de 95% dos fisiculturistas utilizam suplementos, que podem agravar problemas renais em indivíduos com condições pré-existentes. Casos documentados de hepatite tóxica e lesões renais, como necrose tubular aguda, ocorreram devido à administração de EAA e suplementos alimentares.
Este artigo tem como objetivo alertar sobre comportamentos de fisiculturismo ou de fins estéticos que podem expor jovens a riscos significativos de lesões renais agudas, dentre outros riscos cardiovasculares, na tentativa de diminuir o uso indiscriminado do EAA.
Casuística e Método
Realizamos uma revisão bibliográfica dissertativa de tipo sistemático, com utilização de banco de dados como ‘pubmed’ e ‘google scholar’ com as seguintes palavras chave ‘“Anabolic Androgenic Steroids”, “Acute kidney injury” e “Anabolic Agents”, a fim de respaldar a etiologia da alteração morfológica renal encontrada em paciente internado com lesão renal aguda (LRA) após uso de 9 anos sequenciais de EAA. Priorizamos artigos mais recentes, maiores citações e qualidade de publicação em revistas indexadas.
Resultados
Os dados apontam para os crescentes casos de lesões renais decorrentes do uso de EAA, sobretudo por parte dos atletas de alto rendimento. Em termos quantitativos, segundo a WADA no ano de 2022 ocorreu um aumento de 22% do uso de substâncias proibidas por atletas nas competições, além de aumento de até 84% do consumo em jovens de 18-34 anos,, para fins estéticos,conforme a sociedade brasileira de endocrinologia.
Além dos efeitos adversos bem conhecidos de andrógenos, incluindo acne, virilização, priapismo, atrofia testicular, ginecomastia, disfunção hepática, dor no local da injeção, peliose e hepatocarcinoma, atualmente tem se demonstrado frequentes complicações cardiovasculares e renais.
Nosso paciente em questão é atleta amador de musculação, sem competição amadora, mantendo uso de EAA para fins estéticos.
Discussão
O presente estudo foi criado para relatar o caso de um paciente internado em nosso serviço, masculino, 46 anos, que deu entrada no pronto socorro com creatinina sérica de 31 mg.dL, repetida e confirmada, associada a acidose metabólica, hipercalemia e oligúria. Motivo de internação foi inapetência e diminuição da diurese. O paciente ficou internado no período de 03 à 04.2024 devido injuria renal aguda (IRA), contendo histórico de uso de EAA e sobrecarga nos últimos treinos, inclusive com dor local e uso de antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) eventuais, porém evoluiu com necessidade de terapia renal substitutiva (trs) do tipo hemodiálise até recuperação da função renal (parcial) após 2 semanas e biópsia renal que resultou em NIA (nefrite intersticial aguda) conforme demonstrada em biópsia anexada.
O paciente necessitou de terapia renal substitutiva durante 3 (três) sessões e cessar imediatamente o uso de EAA, alem de tornar proibitivo o uso de AINEs associados. Sua creatinina basal de 0,9 mg,dl não retornou à níveis habituais ana alta hospitalar, recebendo alta com 1,5 mg,dl, ou seja, recuperação parcial da função renal e necessidade de seguimento ambulatorial desde então.
Conclusão
Relatamos um quadro de NIA por EAA e AINE para demonstrar que são diversos mecanismos possíveis de lesão renal além da glomerulopatia por esclerose segmentar (GESF),como lesões tubulares, intersticiais e mesmo vasculares. Promover educação sobre os efeitos nocivos dos EAA, inclusive renal, deve ser prioridade para profissionais da saúde.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
MULTIVIX - Ceará - Brasil, REDE D'OR - São Paulo - Brasil, UNIVERSIDADE DE SAO PAULO - São Paulo - Brasil
Autores
FERNANDA TRANI-FERREIRA, VICTORIA MACIEL BARROS VINCO, PAULO EDUARDO ARAUJO GREGORIO, VERONICA RECHE RODRIGUES GAUDINO, Denise Maria Avancini Malheiros