Dados do Trabalho
Título
Fratura por avulsão da tuberosidade isquiática em atleta adolescente de basquete: relato de caso
Introdução e Objetivo
A fratura por avulsão da apófise pélvica é uma categoria que inclui diferentes tipos de fraturas por avulsão. Fraturas por avulsão da espinha ilíaca ântero-inferior, espinha ilíaca ântero-superior e crista ilíaca são relativamente comuns, entretanto, fraturas por avulsão da tuberosidade isquiática são raramente descritas na literatura. No entanto, essa lesão pode ser observada em atletas durante estirões de crescimento. O mecanismo envolve danos à placa epifisária vulnerável, antes do fechamento epifisário, provocados por uma contração excêntrica súbita e vigorosa dos músculos isquiotibiais, sendo atribuída a movimentos de corrida ou salto. A adequada cicatrização deve ser alcançada, e a amplitude de movimento (ADM) e a força muscular devem ser restauradas antes do retorno completo às atividades esportivas. O objetivo deste relato é descrever o diagnóstico, tratamento cirúrgico, reabilitação e retorno ao esporte de um atleta amador de basquete, com destaque para as complicações enfrentadas e processo de recuperação.
Casuística e Método
Paciente do sexo masculino, 14 anos, ala/armador de basquete, apresentou dor aguda incapacitante na região glútea profunda durante um salto em jogo. Avaliado no ambulatório, foi observada fratura por avulsão da tuberosidade isquiática esquerda, com desvio do fragmento maior que 20 mm. Indicado tratamento cirúrgico, realizado 10 dias após o trauma, com redução aberta e fixação do fragmento utilizando âncora e parafusos canulados de 3,5mm. O pós operatório foi realizado com orientações de repouso para evitar a flexão do quadril combinada com a extensão do joelho. Após duas semanas de evolução, o paciente apresentou dor na cicatriz e ciatalgia intensa, com suspeita de falha da osteossíntese e soltura do material, confirmada por radiografia. Uma nova abordagem cirúrgica foi realizada, removendo-se os implantes prévios, e feita ressecção total do fragmento ósseo avulsionado e reinserção tendínea, com novas âncoras, seguido de teste de resistência intraoperatório.
Resultados
O paciente seguiu o protocolo de reabilitação, com controle da dor, ganho de mobilidade e força muscular. Retornou progressivamente aos treinos de resistência e gestual esportivo, retornando ao esporte após 12 semanas, no mesmo nível pré-lesão, sem queixas dolorosas.
Discussão
São raras descrições similares de casos na literatura. A apófise não fundida, pode ser lesionada por forças de tração decorrentes de contrações intensas dos músculos isquiotibiais durante atividades esportivas. Isso ocorre devido à contração excêntrica dos isquiotibiais quando a perna é forçada a uma hiperflexão do quadril com o joelho totalmente estendido. O tratamento conservador é o padrão inicial para essas fraturas, embora complicações como não união, fibrose, dor glútea e fraqueza muscular possam ocorrer. Pacientes com desvio maior ou igual a 20 mm ou com complicações do nervo ciático são candidatos a tratamento cirúrgico. Estudos indicam que atrasos na cirurgia tornam o reparo mais complexo, aumentam a chance de envolvimento do nervo ciático e comprometem a força e resistência dos músculos no pós-operatório. Embora o uso de órteses pós-operatórias, facilitem a recuperação, relatos indicam que a força isocinética dos isquiotibiais do membro operado pode permanecer inferior à do membro não operado. O acompanhamento conjunto das equipes ortopédica e fisioterápica é essencial para a avaliação da ADM, força e coordenação, de forma individualizada, permitindo o retorno às atividades esportivas. Este caso ilustra os desafios da recuperação, incluindo a soltura da síntese e a necessidade de uma segunda intervenção cirúrgica.
Conclusão
O manejo cirúrgico e a reabilitação da avulsão da tuberosidade isquiática em atletas jovens exigem intervenções ajustadas às necessidades do paciente. A soltura dos parafusos no pós-operatório sugere que a ressecção precoce do fragmento, seguida de reinserção tendínea, pode reduzir a taxa de complicações.
Área
Medicina do Esporte
Autores
Isabella Silva Luz, Ana Rita Gonçalvez Melo, Évelyn Medeiros Costa, Bruno Francesco Scatigna, Lucas Cápia Castro Oliveira