Dados do Trabalho
Título
Perfil e incidência de lesões no CrossFit: uma revisão narrativa
Introdução e Objetivo
Fundamentado no início dos anos 2000, o CrossFit corresponde a uma modalidade esportiva focada em treinos que combinam resistência física, levantamento de peso olímpico e calistenia. Desde sua origem, a sua popularização estendeu-se amplamente por diversos países. Nos últimos anos, o número de academias afiliadas à comunidade oficial de CrossFit superou 15.000 unidades. A principal característica atribuída aos seus treinos consiste na busca pela realização do maior número de repetições no menor intervalo de tempo possível, fator pelo qual o esporte se destaca como tão competitivo. Contudo, a exacerbação da competitividade e da intensidade nessa modalidade incitam questionamento sobre lesões neste esporte. O objetivo do presente estudo consiste na revisão de evidências sobre a incidência e o perfil de lesões nos praticantes de CrossFit em comparação com outras modalidades esportivas.
Casuística e Método
Esta revisão narrativa foi realizada com base em artigos obtidos nas bases de dados PubMed e Scopus, sem restrições de data de publicação. Os termos de pesquisa utilizados foram “CrossFit”, “injuries”, “weightlifting”, “powerlifting”, “gymnastics", “football” e “sports”.
Resultados
No que se refere à prática de CrossFit, a incidência de lesões a cada 1000 horas de treinamento foi de 3,24, conforme um estudo que integrou 414 indivíduos, conduzido em academias de CrossFit no estado de São Paulo, Brasil. Por outro lado, estudos baseados em outras modalidades esportivas apresentaram as seguintes incidências: weightlifting (3,3 lesões/1000h), powerlifting (1 lesão/1000h), corrida de rua (7,7 lesões/1000h), ginástica (1,4 lesões/1000h - para homens; 1,5 lesões/1000h - para mulheres), futebol (3,7 lesões/1000h). Quanto ao perfil das lesões verificadas entre praticantes de CrossFit, evidências analisadas sistematicamente destacaram 3 principais regiões: ombros (26%), coluna (24%) e joelho (18%). Lesões nos ombros também foram bastante verificadas em praticantes de ginástica, weightlifting e powerlifting.
Discussão
Uma limitação encontrada na literatura científica corresponde à falta de padronização dos conceitos definidores das lesões. Um dos estudos analisados, por exemplo, definiu como lesão toda injúria que impossibilitasse o praticante de treinar por qualquer período de tempo. Além disso, os números de indivíduos integrados em cada estudo apresentaram grande variação, abrangendo desde 54 pessoas até 3049. Ademais, a massiva utilização de questionários respondidos exclusivamente pelos participantes, em muitas das pesquisas encontradas, compreende um risco de presunção equivocada de autodiagnósticos, sem que haja a consulta de um profissional da saúde. Os fatores anteriormente elencados são atributos razoáveis para explicar um intervalo considerável entre os valores numéricos acerca da incidência e do perfil das lesões no CrossFit na literatura. Essa característica evidencia dificuldade em comparar as lesões no CrossFit em relação a outros esportes.
Conclusão
Em suma, esta revisão verificou que as lesões no CrossFit podem apresentar menor incidência quando comparadas com as de outros esportes, como weightlifting, corrida de rua e futebol. Diante da qualidade e da quantidade dos estudos prévios, mostra-se essencial a execução de estudos prospectivos acerca da incidência e do perfil das lesões no crossfit, para que novas comparações mais contundentes sejam traçadas com outras modalidades esportivas.
Área
Medicina do Esporte
Instituições
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo - Brasil, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Minas Gerais - Brasil
Autores
Thomas Fujihara Ide, Letícia Mara Gomes da Cunha, Lucas Paolucci de Paiva Silvino, Roberto Gonçalves Almeida da Encarnação, Pedro Gibram Gontijo , Gabriel Moraes de Oliveira